Capítulo I - Um pouco da minha infância

Meu nome é Doido..pausa pra risada de vocês..todo mundo ri quando descobre..ta bom já né não precisa avacalhar também, não, não é apelido, meu nome é Doido mesmo, Doido de Alencar Varela, meu nome é uma contração de dois nomes, Doriana, nome da minha mãe e Idovaldo, nome do meu pai, nasci no dia 9 de agosto de 1920 na pequena cidade de Tremembé do Oeste, uma cidadezinha que fica a quinhentos quilômetros do nada e mil quilômetros de coisa nenhuma, sou o caçula de três irmãos, Tadeu o nome do meu irmão, Sandra da minha irmã, é..eles ganharam nomes normais, meu pai, o Sr. Idovaldo Varela era o prefeito da cidade, até que tínhamos uma boa situação financeira, não faltava nada para nós, vivi uma infância normal, dentro de uma família normal, pelo menos eu pensava que era.
Minha rotina era a rotina de qualquer criança, minha mãe me acordava cedo, pra ir ao colégio, sempre tentava enrolar na cama, mas ela não deixava, acordava cheio de sono, ia pro banho e quando sentava na mesma já estava tudo posto com o esmero de sempre de minha amada mãe, o café preto, forte pra acordar, o leite quentinho, pão, manteiga, até hoje sinto o cheiro da manteiga derretendo no pão quentinho, o cheiro gostoso do café da manhã feito com amor, comíamos apressados e minha mãe falava “calma menino, parece que vai tirar o pai da forca!!” Eu achava graça quando ela falava isso e não entendia também, enquanto ela cuidava de nós, de nossa alimentação meu pai sentado à mesa não dizia uma palavra, jornal aberto nas mãos, lia sério, concentrado, as vezes esbravejava algo reclamando de algum aumento de preço ou algo que acontecia na capital do país.
Meu avô por parte de mãe vivia conosco, chamado carinhosamente de Ventania..ele ganhou esse apelido porque na juventude ninguém andava de cavalo tão rápido quanto ele, dizem que foi assim que ele conquistou a minha avó, ela tinha marcado com dois rapazes e ele chegou antes, meu avô era um doce de pessoa, um grande amigo que passava o dia cuidando de seus passarinhos na gaiola e ouvindo rádio, adorava ouvir músicas na vitrola também, mas no fundo meu avô era um homem triste, sentia saudades da minha avó, vovó Ema, convivi pouco com ela, mas lembro que me amava muito e fazia os melhores pastéis que já comi na minha vida, vovô sentava conosco na mesa mas bebia apenas leite, falava que o pão com manteiga atacava sua azia e logo levantava pra dar comida aos passarinhos.
Levantava-me, escovava meus dentes e ganhava benção da minha mãe, partíamos os três pro colégio, a manhã toda lá, as aulas com a tia Gema eram boas, adorava história e português, mas odiava matemática, sempre odiei e até hoje sou fraco em contas, nunca consegui entender o teorema de Pitágoras, equação de 2° grau, tive muitos pesadelos com X e Y, mas não era isso que mais me atraía no colégio, era a Manoela, menininha da minha turma, mesma idade, que eu amava em silêncio, dizia que era a minha namorada mas ela nem sabia, não tinha coragem de me declarar, a Manoela era loirinha, simpática, conversava com todo mundo, muito popular e eu um menino
tímido, poucos amigos, nunca que conseguiria algo com ela .     
“Doido!! Se você não falar com ela aí que não conseguirá nada !!”
Era isso que eu ouvia e ganhava um tabefe na cabeça quando sentado na cadeira da sala de aula eu me desligava do mundo e ficava olhando a Manoela, o tabefe normalmente partia do Gustavo e o Rodrigo do lado rindo falava “O Doido não é de nada, só é de marmelada”, Gustavo e Rodrigo eram dois irmãos, os meus melhores amigos, não só daquela época mas foram os melhores amigos que tive na minha vida, nós éramos inseparáveis, em todos os cantos juntos
Depois das aulas corríamos pra casa, almoçávamos e já nos encontrávamos na rua pra jogar bola, ficávamos na rua jogando, nos divertindo até de noite, os nossos jogos eram muito concorridos, a molecada toda da cidade aparecia, meu irmão Tadeu jogava com a gente e era muito bom de bola, minha irmã Sandra aparecia as vezes também, o curioso que quando ela aparecia os meninos não ligavam mais tanto pro jogo, adoravam conversar com ela, saíam das partidas e iam passear com minha irmã, longos passeios, algumas vezes os meninos nem voltavam, quando íamos ver tinham poucos nas partidas, nem jogávamos com o time completo, situação estranha mas parecia que minha irmã era mais popular que nossas partidas de futebol.
Os jogos iam até de noitinha, até o momento que ouvíamos o assovio do meu pai, esse assovio era um código dele, no primeiro já era pra ficar atentos e correr pra casa, porque se ele desse o segundo era surra de cinto na certa quando chegasse em casa.  
 Chegava em casa, fazia meu dever, jantávamos e nos reuníamos um pouco na sala, perto do aparelho de rádio pra ouvir as notícias e os programas de variedades, meu avô contava histórias de sua juventude, do século XIX, Tadeu e Sandra não gostavam muito de ouvir, mas eu adorava, fascinado parava e ouvia meu avô contar como se estivesse vivendo a situação naquele momento, os olhos cansados dele ganhavam vida, parecia um adolescente, depois minha mãe avisava que era a hora de dormir, botava meu pijama, me ajoelhava ao lado da cama e com as mãos nela rezava e agradecia a Deus por ter protegido a minha família, é, eu era uma criança feliz.
Fim de semana a situação era um pouco diferente, mas eu acordava cedo da mesma maneira, meu avô me chamava antes de amanhecer para irmos pescar, passávamos o dia inteiro na beira do rio pescando e ouvindo suas histórias de pescador, de como era bom, os tipos de peixe que apanhou, contou que costumava pescar peixes maiores que ele, eu nunca conseguia pescar nada, era uma negação, pra dizer a verdade ele também não, mas na verdade nem íamos pro rio pra pescar, íamos por nos amávamos e amávamos nossa relação, estar juntos, voltávamos rindo, de mão abanando e antes de entrar em casa passávamos na peixaria pra comprar peixe, afinal saímos pra pescar e bons pescadores não voltam pra casa de mãos abanando.
No fim da tarde nosso esporte preferido era jogar botão, eu narrava os jogos como se fosse um jogo de verdade, eu sempre o vencia e saía contando vantagem que era o melhor, depois de alguns anos que fui entender que na verdade ele me deixava ganhar e fazia aquilo pra me deixar feliz.
Domingo era dia de missa, minha mãe nos acordava cedo, botava minha melhor roupa e íamos pra missa do padre Pinheiro, padre novo ainda, na casa dos trinta e poucos anos, moreno, bem apessoado, as beatas suspiravam por ele, a sua missa era muito bacana, não era chata, eu gostava de ir me confessar com o padre mesmo tendo nada pra confessar, ia lá e ele já me reconhecia falando “Doido, você não tem nada pra confessar, vá pra casa vai” e me passava cinco pais nossos e cinco ave marias por importuná-lo, depois da missa vinha a melhor parte, o almoço de domingo e esse almoço era muito caprichado, minha mãe era uma cozinheira de mão cheia e fazia uma macarronada maravilhosa.
Era no almoço de domingo que meu pai nos dava mais atenção, ele perguntava como havia sido a semana, queria saber principalmente do colégio, o papo era engraçado, era mais ou menos assim..
Doido: Mãe me passa mais macarrão

Idovaldo: E então, como foram nos estudos

Tadeu: Tirei 10 em geografia pai

Idovaldo: Parabéns meu filho e você Sandra?

Sandra: Não tive provas essa semana pai

Tadeu: Mentira pai, todo mundo teve

Doido: Mãe me passa mais macarrão !!

Sandra: É mentira dele pai, a minha turma não teve

Tadeu: Teve sim pai, é porque a Sandra não fica o tempo todo em sala de aula

Idovaldo: Como assim dona Sandra? O que você fica fazendo?

Doido: Macarrão mãe !!

Sandra: Nada pai, eu faço parte da comissão de jovens católicos do colégio e as vezes tenho que me ausentar, mas participo sim das aulas

Tadeu: Curioso pai que só tem meninos nessa comissão, porque ela só anda com meninos

Idovaldo: É verdade isso Sandra?

Doido: Mãe!! Macarrão !!

Sandra: Não pai, é mentira!!

Tadeu: No futebol também pai ela sempre vai lá pra conversar sozinha com os meninos, parece uma rameira

Doido: Pai, o que é rameira?

Idovaldo: Doriana !! Você vai dar o macarrão desse garoto ou eu terei que dar??

Minha família era assim...


Vou dar um presente pra vocês, vai aí a receita da macarronada maravilhosa da minha mãe

Macarrão Com Creme de Leite

ingredientes

  • 2 pacotes de macarrão (500grs) talharim
  • 600g de mussarela fatiada e picadinha
  • 600g de presunto fatiado e picadinho
  • 2 lata creme de leite com soro
  • 1 cebola picadinha
  • 2 colheres (sopa) de margarina

modo de preparo

Cozinhe o macarrão normal com água um fio de óleo e sal. Escorra-o e reserve.
Numa panela, refogue a margarina com a cebola e quando amolecer a cebola sem escurecer, coloque o presunto.
Quando der uma fritadinha no presunto, desligue o fogo e coloque o creme de leite e reserve. Num refratário, despeje a mistura da panela, a mussarela picadinha, o macarrão e assim em camadas até terminar, cobrindo com mussarela. Levar ao forno para derreter e corar um pouquinho a mussarela.

Bom apetite

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