Capítulo XIII - Anos dourados

Eu que havia entrado naqueia igreja com dúvidas sobre meu futuro saí dela sendo abandonado por duas mulheres ao mesmo tempo. Voltei para pensão e nunca mais tive notícias de Karina, Silvana ou do coronel.

Continuei minha vida. Já formado em engenharia comecei a trabalhar numa empresa e participar de vários projetos, notei realmente que não envelhecia ainda mais quando revia alguém e  essa pessoa falava que eu estava com a mesma cara. Peguei a foto e notei que estava um pouco mais envelhecido nela eu já tinha 36 anos, mas não aparentava.

Comecei a andar com uma turma bacana. Três amigos que fiz frequentando bares da Tijuca. Paulo, Roger e Ricardo. Eram os tempos da brilhantina, usávamos gel no cabelo, jeans, jaqueta de couro e barbarizávamos pelo Rio de Janeiro, os rebeldes sem causa.

Imitávamos Elvis Presley, James Dean e Marlon Brando. Não era raro nos metermos em confusões e dormir em uma delegacia, mas também não era raro sarimos com “brotos” muito legais e curtir o fim de noite nas areias de Ipanema.

Uma noite estávamos os quatro na casa do Paulo pensando no que fazer mais tarde e Roger chegou e perguntou se já tínhamos reparado na vizinha da casa da frente. Respondi que não, Roger me disse que ela sempre se trocava com a janela aberta e  já tinha visto peladinha.

Nisso Ricardo percebeu que a luz do quarto da casa da frente ligou. Era ela, Paulo rapidamente pegou um binóculo e foram os quatro pra janela. Brigávamos pelo binóculo até que eu consegui pegar, na hora que vi a menina estava tirando o sutiã, exclamei “vai tirar!! vai tirar!!”. Nesse momento Ricardo tentou pegar pegar o binóculo da minha mão e ele caiu no chão no lado de fora da casa.  

Pegamos o Ricardo na pancada. Enquanto batíamos nele a campainha da casa tocou descemos e Paulo atendeu a porta com a gente atrás. Era a menina da casa da frente, estendeu a mão cumprimentando Paulo e disse que seu nome era Fabiane e que tentando espioná-la trocar de roupa deixamos cair algo no terreno de sua casa, era o binóculo.

Ficamos sem graça e Fabiane disse que no fim de semana rolaria sua festa de aniversário, seria no salão nobre do Fluminense e que estávamos convidados. Entregou quatro convites se despediu e disse para termos mais cuidado da próxima vez pro binóculo não cair.   

Paulo fechou a porta mexeu no binóculo e disse que ele parecia normal, os três olharam pro Ricardo e as pancadas voltaram.

No sábado com as calças jeans e jaquetas de couro tradicionais pegamos nossas motos e fomos ao Fluminense. Estacionamos, pegamos nossos pentes para uma última ajeitada no cabelo e entramos. O local era bem chique, mulheres de longo, homens de smoking e só nós quatro daquela maneira. Ricardo foi logo atacando os salgadinhos, Roger ajeitou o jaquetão e disse que daria uma volta para apreciar as mulheres e ficamos só eu e Paulo.

Enquanto tocava Nat King Cole, orquestra de Glenn Miller, Elvis, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Sinatra e o Roger tomava fora das meninas e Ricardo se empaturrava de salgadinhos Fabiane se aproximou e disse que éramos bem vindos, agradeci enquanto ela chamava Paulo pra dançar.

Fiquei ali sozinho peguei uma taça de champanhe e comecei a pensar na vida quando vi uma menina do outro lado do salão olhando para o nada. Ela era linda um rosto meigo, parecia tímida, me encantei de cara e fui até ela.
Meio sem jeito estendi a mão e perguntei se ela queria dançar. Ela deu um sorriso tímido e me deu a mão, fomos para o meio do salão. Peguei sua mão, colamos o rosto e dançamos ao som de “only you”.

Dançamos a noite toda assim como Fabiane e Paulo. Em um momento perguntei seu nome e ela respondeu que se chamava Laryssa, perguntou o meu, respondi e ela deu risada. Ri e falei que era normal essa reação já estava acostumado. Foi uma noite maravilhosa.

Em um determinado momento estávamos dançando quando ouvi que uma confusão acontecia. Olhei e eram Roger e Ricardo brigando com outros rapazes. Cutuquei Paulo e mostrei o que acontecia, Laryssa me perguntou o que ocorria e ele falei que teria que dar uma saída. Soltei suas mãos e fui com Paulo, ainda deu tempo de ouvir Laryssa falar seu telefone antes que eu pegasse o primeiro que estava em cima de Ricardo e desse um soco.

A confusão foi generalizada socos, chutes, garrafadas, cadeiras voando e paramos todos pra delegacia. Lá rolou uma provocação e a briga recomeçou na sala do delegado. Nós quatro paramos em uma cela.

Os quatro passaram a noite na cadeia machucados, rindo e falando da confusão. Roger contava como começou, Ricardo que os salgadinhos estavam gostosos, mas estavam fazendo mal e precisava de um banheiro, Paulo detalhava o corpo da Fabiane e que precisava transar com ela enquanto eu como em um mantra repetia o número de telefone da Laryssa.

 Meus amigos perguntaram que números eram aqueles que eu repetia e disse que era o telefone da menina que eu dançara e não podia esquecer. Eles começaram a  brincar que eu tinha me dado bem e respondi que achava que sim que ela era menina pra namorar. Nisso sentimos um cheiro horrível na cela olhamos para Ricardo que falou “eu disse que precisava de um banheiro”.

Liguei para Laryssa e marcamos de assistir “Prisioneiro do rock” novo filme de Elvis Presley no Odeon na Cinelândia. Paulo também levou Fabiane e Roger e Ricardo foram mesmo sem ser convidados por nós. Dentro do cinema Fabiane e Paulo ficaram em um grande agarramento, ele já com a mão dentro da blusa dela, Ricardo e Roger faziam uma grande algazarra jogando pipoca nas pessoas das fileiras da frente enquanto eu e Laryssa assistíamos comportados. Em um determinado momento ela encostou a cabeça no meu ombro e nesse clima romântico assistimos o filme.  

Deixei Laryssa de moto em casa e na hora de se despedir ela me beijou, agradeceu pela companhia abriu a porta,  parou, se virou para mim  e disse “sabe que você me lembra o Elvis?” sorriu e entrou”.

Virei rindo e falando “Elvis Presley..Elvis Presley..”. Peguei meu pente passei no cabelo e fiz uma dancinha “a la Elvis” antes de subir na moto e partir.
Laryssa e eu decidimos namorar e eu fui na casa dela conhecer seus pais.

 Cheguei a residência e fui bem recebido pro seu pai. Dr.Walkir, um engenheiro do tipo figurão bem relacionado com os poderosos da época inclusive o presidente Juscelino Kubistcheck. A mãe de Laryssa havia falecido, então ele era criada para madrasta que se chamava Ana Cristina.

Na sala conversei bastante com Dr. Walkir de política, engenharia enquanto as mulheres fiscalizavam a cozinha, em um momento elas nos chamaram e fomos jantar. Meu sogro realmente parecia ter gostado de mim falava animado quando notei que uma perna roçava na minha, alisava. Virei e baixinho pedi pra Laryssa que parasse seu pai poderia perceber. Laryssa perguntou parar o que se não estava fazendo nada. Quando olhei pra frente a madrasta de minha namorada me olhava com um jeito provocante. Na hora engasguei, Laryssa preocupada deu tapinhas nas minhas costas e a Ana Cristina continuava me olhando.

No fim me despedi do meu sogro que falou que eu  voltasse sempre e da minha sogra, na hora que beijei seu rosto discretamente ela apertou minha bunda e disse que tinha sido um prazer. Laryssa me levou até a porta do pédio e perguntou se eu estava bem, estava estranho respondi que sim, mas a verdade era que estava entrando em mais uma confusão.

O namoro ia bem assim como o de Fabiane e Paulo. Uma vez fomos ao drive in. Fabiane e Paulo no banco da frente estavam quase transando na minha frente. Eu atrás decidi ousar botei a mão no ombro de minha namorada e fui descendo pra botar a mão em seu seio. Antes que chegasse nele ela deu um tapa na minha mão e disse “só casando”. Senti-me como nos tempos que era virgem e acontecia tudo errado para transar. Nesse momento ela pediu para que pegasse lanche, puxei Gustavo e disse que ele iria comigo.

Na fila do lanche lamentei com Paulo dizendo que estava há meses namorando com Laryssa e ela não permitia fazer nada. Ele me disse então para aceitar então as provocações de minha sogra. Falei que não podia, devia respeito a minha namorada e meu sogro. Paulo riu e lembrou de várias histórias minhas onde não tive tal respeito. Virei e falei para ele que dessa vez seria diferente, eu faria tudo certo.  Meu amigo comentou que pelo menos ele não tinha esse problema que Fabiane era bem liberal.

Mas o fato dela ser liberal acabou trazendo problemas para os dois. Um dia saía da pensão de dona Li e encontrei meu amigo na frente me esperando. Perguntei o que havia acontecido e ele respondeu que Fabiane estava grávida. Tentei acalmá-lo e falar que na vida tudo tinha solução, ele disse que sim tinha a solução e eu iria ajudá-lo. achar uma clínica de aborto.

Eu nunca fui a favor do aborto. Eu era um cara literalmente doido aprontava muito, mas não tinha coragem de com uma namorada cometer tal ato já que nós erramos e sentimos prazer em cometer esse erro a criança não tinha culpa e não poderia pagar. Mas meu amigo estava desesperado e não poderia deixá-lo na mão e mesmo contrariado aceitei.

Vasculhamos a cidade toda até encontrar uma clínica de abortos clandestina no Andaraí. Um dia fomos pra lá eu, ele e Fabiane. Os dois entraram numa sala para uma consulta, fiquei na recepção esperando. Saíram de lá e perguntei como tinha sido e quando o aborto seria feito. Paulo respondeu que o feto já estava de cinco meses e com esse tempo seria mais arriscado e o médico queria uma quantia maior.

 Fabiane chorava sem saber o que fazer e contando que não sabia que estava de cinco meses e que para ela eram apenas dois. Falei que era bom eles pensarem bem já que exigia mais despesas e era arriscado, que talvez fosse melhor uma outra solução.

Paulo disse que já tinha a solução, a melhor solução. Virou para Fabiane e perguntou se ela queria casar com ele. Ela em uma mistura de choro e riso aceitou e assim pela primeira e última vez na minha vida vi um pedido de casamento em uma clínica de aborto. Eles se casaram em uma igreja na Urca três semanas depois e poucos sabiam que a noiva estava grávida.

O ano era de 1958. Apesar de ninguém saber eu era quase um quarentão e realmente a loucura da foto parecia real. Nunca mais soubera nenhuma notícia sobre Aloemi e a Laryssa era uma menina doce, adorável, uma rosa. Então talvez fosse a hora de casar.

Decidimos ficar noivos e como seu pai reuniria amigos e familiares para acompanhar em sua casa a final da copa decidimos que era uma boa oportunidade de noivarmos. O dia chegou, 29 de junho de 1958. Todos estavam lá inclusive Ricardo, Roger, Paulo, Fabiane e seu filhinho, todos na sala ouvindo o jogo pelo rádio.

O jogo foi tenso, rapidamente lembrei do dia que cheguei no Rio de Janeiro e a derrota pro Uruguai. Mas o Brasil de Gilmar, Djalma Santos, Belini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Pelé, Vavá e Zagallo sagrou-se campeão do mundo com uma espetacular goleada por 5x2 em cima da Suécia. Uma grande festa tomou conta do país e na residência não foi diferente. Enquanto todos brindavam o título mundial do Brasil decidimos que era a hora de contar.

Reunimos todos e contamos que naquele momento trocaríamos alianças e ficaríamos noivos, a festa ficou maior ainda. Dr. Walkir me abraçou dando parabéns e que eu era muito bem vindo a família, Ana Cristina também me abraçou e como de hábito apertou minha bunda. Foi uma grande celebração, eu estava feliz de verdade mesmo me lembrando de Aloemi e do brinde que fizemos com Gustavo e Rodrigo quando anunciei que moraríamos juntos. Em um determinado momento meu sogro me chama pra conversar.

Sentamos e Dr.Walkir perguntou se eu queria ajudar a construir a nova capital federal. Naquele momento a cidade de Brasília estava sendo construída, era a principal promessa de campanha do presidente Juscelino Kubitscheck. Pensei um pouco e disse que tinha que conversar com Laryssa.
Chamei minha noiva ao quarto para conversar e contei da proposta de seu pai e o que ela achava. Laryssa respondeu que a decisão teria que ser minha e que qualquer coisa que eu decidisse apoiaria. Falei para ela que era um grande desafio e eu estava precisando de desafios. Laryssa sorriu e disse “vai meu amor”.

O Brasil vivia o que era chamado de “anos dourados”. Era campeão mundial de futebol, Martha Rocha poucos anos antes por muito pouco não se tornou Miss Universo, a bossa nova ganhava o mundo representada por Tom Jobim e João Gilberto, o Brasil crescia a olhos vistos e uma nova capital era construída.

Cheguei a Brasília e as obras iam a todo vapor cada dia mais chegavam candangos, brasileiros de todo o país que chegavam para ser operários naquela terra em construção ainda cheia de poeiras mas que representava a modernidade do país. A principal meta dos “50 anos em 5”.

De vez em quando ia ao Rio de Janeiro para ver minha noiva e tratar do casamento, passava o fim de semana e voltava para Brasília. A cidade tinha que ser inaugurada antes do fim do mandato de JK. Meu sogro era um anti comunista ferrenho e seu maior medo era ver o país nas mãos de homens como João Goulart e Leonel Brizola. As obras iam a todo vapor e os preparativos pro meu casamento também.

Até que o fim de semana do casamento chegou. Fui com meus amigos para despedida de solteiro e bebi muito. No dia do casamento estava em um sono pesado quando senti um cutucão da mulher que estava comigo na cama. Perguntei babando de sono o que era e ela me perguntou se eu não tinha nada de importante naquele dia, respondi que não e voltei a dormir. Dez segundos depois me levantei assustado e gritei “meu casamento!!”.

Arrumei-me rapidamente e quando estava para abrir a porta voltei na cama, cumprimentei a mulher que estava nela nua e disse “prazer Doido”. É, eu nem lembrava quem era ela. 

Cheguei apressado ao casamento e o ônibus com a delegação de Tremembé já estava na porta da igreja, o pior que o carro com Laryssa também. Fui até o carro e pedi desculpas pela demora porque o vôo para o Rio tinha atrasado. Cumprimentei rapidamente minha irmã na porta e quando ela começou a frase “Doido você tem certeza que está fazendo a..”eu a interrompi falando “nem começa”. Entrei rapidamente na igreja pedindo desculpas a todos e me posicionando com minha sogra sorrindo e falando baixinho que a noite devia ter sido boa e que queria uma noite daquelas comigo.

Laryssa entrou, estava linda, recebi minha noiva de meu sogro e  nos posicionamos na frente do padre, na hora que ela disse sim perguntei se ela tinha certeza. Laryssa estranhou a pergunta e perguntou porque tinha feito, respondi para que ela esquecesse e pedi pro padre continuar a cerimônia.
Enfim me casei. A festa foi maravilhosa com muitas pessoas que amava presentes. Fui com Laryssa para uma suíte do Copacabana Palace e finalmente tivemos nossa primeira noite.

No dia seguinte passei na pensão de dona Li para pegar as minhas últimas coisas que ainda restavam lá. Na saída dei um abraço carinhoso nela e agradeci por tudo que havia feito por mim, por ter cuidado de mim com tanto carinho. Ela me deu um beijo no rosto e falou que me considerava como um filho ou neto, me amava muito e tinha muito orgulho de mim.

Saí da pensão com sentimento de saudade, lembrei de quando cheguei, de Susana, Luciana, tudo que tinha vivido naqueles anos todos morando na Lapa. Saí com aquele sentimento de saudade e depois soube que o sentimento se estenderia a dona Li. Ela morreu poucas semanas depois e aquela foi a última vez que a vi viva.

Continuei trabalhando para a construção de Brasília e vindo visitar minha esposa. Até que o trabalho foi concluído e no dia 21 de abril de 1960 a nova capital foi inaugurada. Eu era um dos milhares que estavam no meio do povo assistindo a nova capital ganhar vida com o discurso do presidente e com muito orgulho de ter feito parte daquela criação. Meu sogro me abraçava e falava “quero ver aquele comunista do João Goulart ser presidente agora”.

Voltei a morar no Rio de Janeiro. Laryssa e eu compramos um apartamento em Ipanema e sempre estávamos com sua família. Um dia ela estava no trabalho e ligou para o meu perguntando se poderia passar na casa de seus pais no meu horário de almoço pegar uns documentos e levar para ela, respondi que sim e fui.

Cheguei lá e Ana Cristina estava sozinha, ainda pensei comigo mesmo “isso não vai prestar”. Ela só de camisola pediu para que eu sentasse enquanto pegaria o documento. Sentei e quando ela voltou estava completamente nua. Fechei os olhos e pedi para que ela colocasse a roupa que ela era minha sogra e aquela situação não estava correta. Ela mandou que eu parasse de besteiras e me beijou. Não aguentei peguei no colo e levei pro quarto do casal.

Assim transei com minha sogra no quarto deles, cheio de culpa e de tesão. Quando já havíamos finalizado o ato tentei me levantar rapidamente e ela perguntou porque a pressa, respondi que meu sogro poderia chegar a qualquer momento e perguntei se ela sabia que horas ele chegava. Minha sogra respondeu que não, mas a resposta nao tardou a vir, naquele momento ele entrou no quarto.
  
Meu sogro ficou branco com a cena que viu. Sua mulher nua na cama e eu em pé nu só de sapatos, a velha mania e com a calça na mão. De branco ficou vermelho, gritou “filhos da put..” botou a mão no coração e caiu. Infarto fulminante estava morto.

Eu e Ana Cristina nos olhamos com cara de fudeu e sem saber o que fazer. Minha sogra mandou que eu fosse embora que iria ligar para um hospital. Saí e no trabalho “recebi” a notícia da morte do meu sogro. Fui ao trabalho de minha esposa contar e ela se desesperou chorando nos meus braços. Eu a acariciava por pena e culpa.

O enterro foi no dia seguinte e quando saíamos do cemitério Laryssa virou para mim e disse que precisava conversar, perguntei o que era. Minha esposa disse que sua madrasta com isso ficaria sozinha e não achava de bom tom deixá-la solitária naquele apartamento com tantas lembranças e como o nosso era espaçoso se não seria bom que ela fosse morar com a gente. Dei uma pequena engasgada com o que ela me disse, afrouxei o nó da gravata e disse que sim..sim, eu estava ferrado.

Assim começou mais uma vida dupla minha. Casado com Laryssa e tendo caso com minha sogra. Minha esposa nem desconfiava, mas eu tinha medo sabia que aquilo poderia me causar problemas. Via o retrato de meu sogro na parede da sala e ele parecia me olhar enfurecido, eu parava pra olhar a foto ficava com medo e pensava “não, ele tá morto, pode me fazer nada”.
Uma noite acordei e fui ao banheiro, quando ia fechar a porta escutei um “canalha”. Voltei ao corredor e procurei quem tinha dito aquilo, mas não vi ninguém, pensei que devia ser meu sono. Voltei ao banheiro tranquei a porta e quando me viro dou de cara com meu sogro sentado na privada.

É amigos, o fantasma do Dr. Walkir. Esfreguei os olhos para ver se era verdade e ele estava ali mesmo. Meu sogro levantou, olhou sério para mim e disse “não adianta esfregar canhalha sou eu mesmo”. Gaguejando perguntei como já que ele estava morto. Meu sogro se aproximou de mim e perguntou se eu acharia que comeria sua filha, sua mulher e ficaria por isso mesmo.

Dei um grito e saí correndo. Minha mulher e minha sogra acordaram assustadas perguntando o que havia acontecido, eu todo mijado respondi que o meu sogro estava no banheiro. Elas assustadas entraram correndo no banheiro e viram nada. Laryssa voltou e pegou minha mão para irmos pro quarto dizendo que eu devia estar cansado e vendo coisas. Sorri e concordei que devia ser isso mesmo. Voltamos para a cama.          

Na manhã seguinte acordei e ele estava sentado no pé da cama. Assutado perguntei “você de novo?” e ele respondeu “não seu canalha, a Grace kelly” e cinicamente ainda perguntou se eu queria café da manhã na cama ou preferia comer sua mulher. Perguntei o que ele queria comigo e ele respondeu que iria transformar minha vida num inferno. Gritei pela minha esposa. Laryssa entrou correndo no quarto e eu disse “seu, seu..”, notei que ele havia sumido e quando ela perguntou “meu o que?” respondi que “seus olhos são lindos”.

E minha vida realmente virou um inferno, meu sogro aparecia sempre pra mim. Uma vez estava na cama com minha sogra e quando reparei ele estava na porta do quarto me olhando enfurecido, dei um grito e quando Ana Cristina perguntou o que havia acontecido eu constrangido e com sorriso amarelo disse“gozei”. Ele não me deixava mais em paz.

Roger me levou numa macumba em Niterói na casa de um Pai Xoxó. Chegamos e falei ao Pai Xoxó “eu vejo pessoas mortas”, ele mandou que eu fizesse trabalho. Matasse uma galinha preta e colocasse junto com farofa, duas velas de sete dias e marafo numa encruzilhada. Parei numa esquina e fiz tudo que o pai de santo mandou, entrei no carro e de de cara com meu sogro no banco do carona rindo e falando que não tinha dado certo.

As pessoas começavam a achar que estava fazendo jus ao meu nome. Laryssa preocupada me levou a um psiquatra. No local o homem mandou que eu contasse toda minha vida, achei arriscado contar achei que quando falasse dos ETs com Ericka seria mandado pro sanatório.

O psiquiatra perguntou se estava vendo meu sogro naquele momento, olhei e ele estava sentado em cima da mesa rindo, respondi que sim. O doutor perguntou se ele falava algo. Respondi que sim, ele disse que aquilo não iria adiantar e que Freud havia acabado de dizer que o doutor era gay. O psiquiatra falou e que eu podia me retirar de seu consultório e não voltar mais. Agradeci e saí.

Os dias iam passando e eu nem conseguia mais namorar direito com minha mulher e minha sogra. No trabalho meu sogro encheu tanto minha  paciência que comecei a xingá-lo. Meu chefe pensou que fosse para ele os xingamentos e me demitiu.

Sem emprego, sem conseguir namorar e com o fantasma do meu sogro me perseguindo. Achei que estava no fundo do poço. Mas tudo que estava ruim poderia piorar e senti isso quando entrei em casa.

Entrei e senti tudo silencioso não entendi. Chamei por minha mulher, minha sogra e ninguém me atendeu. Abri uma garrafa de uísque, enchi o copo e comecei a ouvir gemidos vindos do meu quarto, estranhei e me encaminhei para ele.

Abrindo a porta presencio uma cena bizarra, minha sogra e minha mulher na cama!!! Fiquei branco como meu sogro quando me pegou com sua esposa. Antes que eu perguntasse alguma coisa Laryssa se desculpou falando que eu estava louco, não a procurava mais na cama e um dia rolou um clima entre elas, se apaixonaram e a melhor coisa que eu faria era ir embora e que minha mala já estava na sala.

Nesse momento percebi que havia algo embaixo da coberta e perguntei o que era. Nisso uma pessoa se descobre e pra minha surpresa era o anãozinho do jogo do bicho. O que fez karina desmanchar o casamento comigo. Ele sorri e diz “foi mal Doido”. Respondi “foi mal não, foi péssimo”. Ana Cristina pede para que eu respeite a privacidade deles e vá embora. Eu humilhado me viro para sair enquanto Laryssa pede pra fechar a porta.

Humilhado, traído e sem ter onde ficar pego um taxi. O taxista pergunta para onde vou e eu respondo pra ele apenas dirigir e que depois eu decidiria. Nisso meu sogro aparece do meu lado no banco de trás rindo porque eu havia de uma vez só perdido a mulher e a amante. Eu me mantinha quieto enquanto o taxista aumentava o volume do rádio dizendo que algo havia acontecido em Brasília.

No rádio anunciaram que Jânio Quadros havia renunciado e João Goulart era o novo presidente do Brasil. Comecei a gargalhar, gargalhar muito como um maluco mesmo. Gargalhar como nunca havia feito na vida. Meu sogro se enfureceu gritou “canalha!!” e sumiu. Nunca mais apareceu. Eu continuava gargalhando e gritei “Dr.Walkir filh..da put..!!! Se fud...!!!”.

O taxista se assutou com minha reação e perguntou se eu era doido, gargalhando respondi desde que nasci. Ele parou o carro e pediu que eu descesse. Rindo eu desci.

Andei pela praia de Copacabana gargalhando, tinha perdido tudo, mas estava rindo demais. Parei, olhei pro céu fiz uma banana e gritei “aqui pra você Dr.Walkir!!!”.    

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