Capítulo XI - Major Freitas


Os cinco eram bandidos cada um em sua especialidade. O do colarinho branco, o do tráfico de drogas, o do sexo e jogatina, o playboy e o sanguinário. Esse último com certeza era o major Freitas como vocês já puderam ver.
Enquanto nós lamentávamos a derrota na disputa de samba-enredo Freitas enchia o Pai de Santo de balas e isso para ele era uma coisa muito natural nunca teve remorsos ou crises de consciência até porque ele nem deve ter consciência. Major Freitas era um fruto da sociedade.  
O bem e o mal, o amor e o ódio sempre foram mais próximos que se imagina, são irmãos andando de braços dados e isso pode ser falado também dos bons e os maus. Ser policial é sempre estar perto dessa fronteira. Contato permanente com o mau e não vamos negar que o lado ruim tem seu charme e suas atrações.
Eu que sou eu fui seduzido e fui para esse lado imagine quem arrisca a vida para enfrentar esse tipo de gente e ganha um salário de merda todo mês? Sai sem saber se vai voltar pra casa, se verá os filhos novamente. O policial se arrisca por quem nem lhe conhece e muitas vezes não lhe dá valor.
Alguns acabam ultrapassando essa fronteira entre o bem e o mal, não todos graças a Deus para cada policial corrupto existem pelo menos cem honestos.     
Mas esse capítulo é sobre o major Freitas e como vocês já viram esse atravessou a fronteira.
Roberto Cipriano Freitas, esse é o nome do major.
Nasceu em Salvador na Bahia e era o mais novo de dois irmãos, o outro se chamava Mariel. Seu pai faleceu de aneurisma quando ele tinha três anos de idade e um pouco depois a família se mudou para o rio de Janeiro, mais precisamente para o bairro de Bangu.
Lá estudou em colégios bons e fez diversas atividades esportivas como judô e natação. Também era um craque da bola e tinha em seu irmão Mariel uma referência. No fim de sua infância viu o irmão prestar concurso e entrar para a polícia civil do Rio de janeiro e sua mãe casar com um 3° sargento do Exército.
Freitas era forte devido as atividades que fazia e assim atraía a atenção das meninas do bairro e também era muito inteligente, um crânios nos estudos. Sempre com notas altas sendo orgulho da família com o futuro todo a sua disposição.
Primeiro pensou em ser nadador e ganhou assim muitas medalhas. Participou até de competições fora do estado muito incentivado principalmente por seu irmão. Mariel passava todos os ensinamentos que um irmãos mais velho faz e como a relação dos dois com o padrasto era fria também fazia as vezes o papel de pai.
Foi Mariel que levou Freitas para ter sua primeira vez. Uma noite o major então com quinze anos já havia se despedido da mãe para deitar quando o irmão bateu na porta. Freitas atendeu e Mariel mandou que ele trocasse de roupa que eles iriam sair. O menino nem pensou duas vezes, trocou de roupa e os dois saíram pela janela.
Mariel levou Freitas até a Vila Mimosa, reduto do sexo no Rio de Janeiro e entrando em uma das casas mandou que ele escolhesse a mulher que quisesse. Freitas ficou admirado com aquele mundo até então desconhecido e ao som de Altemar Dutra escolheu uma das prostitutas e foi com ela perder seu cabaço.
 E o major viciou-se em putaria não querendo mais saber de outra coisa. Todo o dinheiro que juntava gastava na Mimosa, até arrumou uma namoradinha por lá uma paraibana chamada Edileusa que lhe ensinou a sublime arte da putaria e como fazer o martelinho invertido que acabou tornando-se uma especialidade do major. Não vou contar como se pratica o martelinho invertido isso fica para a imaginação de vocês.
Freitas através do irmão conheceu o submundo e gostou. Isso vocês já viram um pouco nos capítulos que o homem foi citado. Entre os quinze e os dezoito anos aprontou muito, mas não deixava a mãe nem o padrasto perceberem apenas Mariel sabia. Continuava tirando notas altas na escola e praticando esportes. Mas suas noites eram em puteiros com mulheres.
Inventou para a mãe que havia arrumado um curso técnico para fazer a noite, mas seu curso era para se tornar cachaceiro profissional e cafetão juramentado.
Sim ele foi cafetão em sua adolescência. Aprendeu a manusear armas com o irmão policial e já usava uma. Apesar de moleque era durão conseguia se impor e daí ganhou o apelido de major. É major é apelido não era sua patente até porque Freitas era policial civil não militar, assim como seu irmão.
Seu irmão que ao contrário de Freitas não era de putarias e bebedeiras. Levava a profissão de policial a sério. Profissional sério, batalhador, corajoso e acima de tudo honesto nunca pegou propinas, nunca aceitou nem cafezinhos tudo o que fazia era dentro da lei. Um exemplo de policial como muitos que temos por aí.
E seguindo essa retidão de vida Mariel começou a namorar uma menina chamada Suely, com o namoro veio o noivado e um tempo depois o casamento. Freitas foi o padrinho do irmão em uma cerimônia simples, mas bonita.
Suely formara-se em direito e os dois alugaram uma casa perto da família de Mariel e estavam sempre todos reunidos para churrascos e cantorias. Mariel achava-se um excelente cantor e fazia dupla com o padrasto que tocava violão.
Enquanto Mariel criava sua família Freitas queria saber de outras famílias. Mulheres casadas de preferência. Teve caso com várias da região e o caso mais famoso foi com a mulher do dono de uma rede de postos de gasolina da região.
 Um dia o homem pegou Freitas com sua mulher em flagrante na cama e descarregou sua arma no major que corria só de cueca pela rua. Nenhuma bala lhe acertou, mas ele teve que ficar um tempo fora de circulação.
O episódio parece que fez Freitas acordar um pouco para a vida. Já com dezoito anos resolveu largar a putaria profissional e decidiu prestar concurso para a polícia civil sendo aprovado assim como seu irmão.
Os dois companheiros de vida assim tornavam-se companheiros de profissão. Prontos para arriscar a vida pelo cidadão fluminense.
Mas essa situação não durou muito tempo..
Mariel e Suely trabalhavam davam duro e não viviam em um mar de rosas e com isso não tinham casa própria nem carro fazendo com quem andassem de ônibus. Suely engravidou e isso fez com que uma felicidade imensa tomasse conta da família Cipriano de Freitas. Já sabiam que seria um menino e a decisão foi de dar o nome de João como o pai deles.
Tudo ia muito bem, mas como diria Paulinho da Viola..porém ah porém..
Como disse acima o casal andava de ônibus e estavam em um indo para uma consulta de pré natal de Suely. Estavam lá sentados conversando quando três homens entraram armados no veículo anunciando assalto.
Foi uma gritaria e os homens passavam de banco em banco levando todos os pertences dos passageiros. Mariel estava armado, mas achou mais prudente deixar a arma na cintura do que começar um conflito e se arriscar a acertar algum inocente.
Chegaram ao casal e um dos bandidos olhou fixamente para Mariel e disse que lhe conhecia de algum lugar. Pediu a carteira dele e lá viram que era policial. O homem então gritou que “esse policial filho da puta” me prendeu uma vez. Foi a senha.
Mariel botou a mão na cintura para sacar a arma, mas antes disso foi alvejado duas vezes no peito. Os bandidos mandaram o motorista parar e desceram com o homem lá agonizando nos braços da amada.
Suely entrou em desespero e gritou para que o motorista levasse o ônibus ao hospital mais próximo. Mariel olhou para a mulher e disse que a amava e pediu para que cuidasse bem do filho deles que onde ele estivesse iria olhar por João.
Falou e morreu.
O veículo ainda parou no hospital Suely desceu com ele que foi levado para dentro da emergência, mas já era tarde. Morreu no ônibus, morreu porque era policial. Policial honesto, de bem que entraria para as estatísticas.
Aquilo provocou uma grande revolta entre os policiais do Rio de Janeiro ainda mais que Mariel era muito querido. Muitos policiais foram ao enterro e enquanto o caixão descia gritavam por justiça. A mãe de Mariel chorava descontroladamente, Suely teve que ser medicada e Freitas olhava o irmão morto no caixão com olhar de raiva. Pela primeira vez Freitas sentia ódio na vida o ódio que ele carregaria pro toda sua existência.
Aquele menino farreador e beberrão morrera junto com o irmão. Nascia ali o sanguinário major Freitas.
Depois do enterro alguns policiais cercaram o rapaz e juraram vingar a morte de seu irmão que ele ficasse despreocupado. Freitas respondeu que não seriam assim ele queria participar junto da caçada aos bandidos e ninguém poderia impedi-lo.
E ninguém lhe impediu mesmo uma grande caçada começava ali. Reviraram favelas atrás dos bandidos. Arrombavam portas de barracos sem pena e davam tapas na cara dos moradores para saber alguma informação. Até que conseguiram achar o primeiro.      
Freitas chegou com um grupo de policiais ao local que ele estava quando o mesmo já havia apanhado muito de outro grupo que estava lá. Quando lhe viram no local o grupo que batia no bandido o cumprimentou e perguntou se ele queria ter a honra de matar. Freitas respondeu que fazia questão.
O homem no chão ensangüentado implorava por perdão dizendo que era pai de família com quatro crianças pra sustentar e que sem ele os filhos não teriam ninguém. Freitas engatilhou a arma e falou que o bandido não pensou nisso enquanto matava seu irmão e que sua cunhada estava grávida. O homem chorou pedindo piedade quando Freitas descarregou a arma nele.
Sem sentir um pingo de piedade, remorso, nada. Começava ali suas histórias sanguinárias.
Que se seguiram com os outros dois bandidos. O mesmo desfecho. Freitas havia vingado a morte do irmão.
E matar acabou se tornando uma arte para ele, um esporte como era a natação e o judô. Logo sua fama de “limpador da área” ganhou fama e ele e outros policiais começaram a ser contratados por comerciantes da área para esse tipo de serviços.   Receberam a lista dos bandidinhos da região que importunavam os comerciantes e eliminaram um por um ganhando um belo dinheiro.
Alguns anos depois ganhou fama quando aconteceu um seqüestro em residência na Ilha do Governador. A divisão anti seqüestro foi mandada pra lá e como ele estava na época servindo na 37° DP que fiava no bairro os membros da delegacia também foram.    
Um dia inteiro de negociações. Helicópteros sobrevoavam o local, imprensa toda lá. Uma barricada com carros da polícia e o chefe da DAS tentando negociar com os bandidos que mantinham a família refém.
A mulher do chefe do bando foi levada até o local e junto com o chefe da DAS aproximou-se da casa para tentar convencê-lo a se entregar. Tomaram uma rajada de balas perto dos pés. Pelo jeito o bandido não gostava muito da esposa.
Já caindo a noite chegaram a um acordo e a polícia decidiu que deixaria os bandidos saíram com o chefe da casa. Três bandidos caíram de carro com o homem dirigindo em direção a ponte do Galeão que une o bairro ao resto da cidade. A polícia deu um tempo e foi atrás.
Na época só havia uma ponte para sair da Ilha ainda não existia a ponte nova então o chefe da DAS foi esperto mandando que fechassem a ponte, uma barricada de viaturas foi formada com o carro com os seqüestradores ficando entre essa barricada e a polícia que estava chegando.
Um grande engarrafamento foi formado e com a chegada da polícia tiroteio. Podem estar se perguntando..e o Freitas nessa história? Pois bem coube a ele a “honra” de acertar a cabeça do líder dos seqüestradores com esse agarrado ao seqüestrado, uma mira precisa onde conseguiu alvejar o bandido sem acertar o refém.
Com o bandido caído morto no chão o refém conseguiu se soltar e correr. Foi a chance que os policiais precisavam para se aproximar dos outros dois bandidos e os encher de tiros.          
Freitas com isso cresceu vertiginosamente na corporação. Ganhou respeito entre os seus e entrou para a lista dos “homens de ouro da polícia”. Aqueles mais durões que cumpriam com seu dever nem que para isso matassem.
Mas como eu disse era tênue a linha entre o bem e o mal, a fronteira entre o mocinho e o bandido e aos poucos Freitas atravessou a fronteira. Entrou para o esquadrão da morte um grupo clandestino formado por policiais, militares, juristas, comerciantes, políticos que tinha por objetivo limpar o Rio de Janeiro da bandidagem. O objetivo não era prender era matar.
E eles mataram muito, muitos..nem todos bandidos
E começaram a ganhar dinheiro também, rapidamente Freitas começou suas ligações com o narcotráfico e selecionava quem prendia e matava. Virou um policial temido por bandidos e por seus colegas. Um homem que não tinha medo, que matava por prazer.
Mas ele não largava o submundo..não casou porque continuava amando a putaria. Era viciado em sexo e para isso não importava se era mulher ou travesti.
É parceiro o policial valentão que gostava de matar curtia travestis.
E numa dessas passeando de carro pelo centro da cidade viu próximo do Campo de Santana um travesti loiro, alto com bastante silicone. Corpo de mulher mesmo. Parou e perguntou quanto era o programa, preço combinado mandou entrar.
Seu nome era Rafael, mas atendia por Suellen e por ironia do destino ele se apaixonou pelo “traveco”.
Arrumou um quarto e sala na Glória pra Suellen morar e lhe visitava todas as noites às vezes dormindo com ela. Não dá pra falar exatamente o que faziam entre quatro paredes, quem pegava quem, mas como dizem o ativo também é gay. Freitas tratava tudo com muita discrição.
Mas essas coisas acabam vazando e chegou ao ouvido dos colegas o caso de Freitas com um homem. No começo ninguém falava nada perto dele, mas aos poucos ele ficou sabendo das piadinhas só que na cara mesmo ninguém tinha coragem de fazer.
Até que ele chegou um dia pra trabalhar e viu um DVD em sua mesa com um bilhete escrito “Ao Roberto Freitas com carinho”. O Homem achou estranho, mas guardou e levou pra casa. Quando chegou colocou na TV e viu que era o vídeo de um travesti comendo um cara.
No dia seguinte Freitas reuniu os colegas e perguntou quem havia feito a brincadeira do DVD. Os homens falaram que não sabiam de nada, mas mal continham o riso. Nisso Freitas pegou uma granada tirou o pino e colocou um dedo tampando a mesma pra desespero dos policiais.
Freitas com a granada na mão perguntou novamente quem tinha feito a brincadeira. Os colegas pediam pro Freitas parar com aquilo que todos iriam morrer. Mais uma vez ele pediu que quem fez a brincadeira se acusasse. Um policial então se entregou dizendo que foi ele pedindo desculpas.
Freitas então tirou o dedo e todos se jogaram no chão aterrorizados e achando que fossem morrer quando o homem gargalhou e disse que a granada era de brinquedo a brincadeira do DVD era sem graça e que não se repetisse. Saiu rindo com os colegas comentando que ele era louco.
Era louco mesmo. Algumas horas o carro com o policial que se entregou foi encontrado metralhado com ele morto dentro com mais de cem tiros.
Freitas então foi encontrar Suellen. Transaram como sempre e o major pediu que ela ficasse na cama que ele tinha uma surpresa pro seu amor. O travesti ficou deitado ansioso perguntando o que era quando ele saiu e voltou com as mãos nas costas.
Suellen olhou seu amado ali em pé na sua frente com as mãos escondidas e falou “vai amor me conta o que é. Estou morrendo de curiosidade”. Morreu sim..não de curiosidade, mas baleado mesmo. Era um revolver, Freitas apontou e atirou na cabeça de Suellen matando o travesti. Depois vestiu sua roupa e saiu da quitinete.
Major Freitas só amava a ele mesmo..a ele e a morte.

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