Capítulo VII - Conhecendo o sucesso

E não foi a única vez que a música tocou, apenas a primeira. “Momentos” virou grande hit dos programas de funk fazendo com que Lucas e Léo ficassem conhecidos no meio.

Os bailes do Dendê ganharam um ingrediente a mais. O sucesso de Lucas e Léo fez que a dupla se tornasse o maior chamariz para que os bailes lotassem e assim aumentassem o cachê.

Assim como aumentou o cachê nas caravanas e o tempo de apresentação aumentando para uma hora.

Lucas e Léo continuavam nas obras, mas agora eram celebridades nelas e aproveitando o sucesso aumentaram também o que pediam para trabalhar.

Com tudo isso os meninos passavam pela melhor fase financeira até então na vida e foi dessa forma que Leonardo Júnior chegou ao planeta.

Com grande emoção o pai babão pegou o filho no colo pela primeira vez sob o olhar do amigo e parceiro de funk. Léo beijou o filho e prometeu que sua vida seria diferente e melhor que a do pai. Lucas emocionado só abraçava o amigo e olhava seu futuro afilhado.

Sim porque evidente que Lucas foi escolhido para ser padrinho da criança. Ele e Mayara batizaram Léozinho em uma linda manhã de Sol no Rio de Janeiro. A fase estava boa, a vida estava boa.

Lucas voltou a fazer aulas de técnica vocal, dessa vez levando a sério mesmo não apenas pra ficar perto de Mayara e aproveitava a inspiração e dedicação para compor. Escrevia e testava as músicas nas apresentações da dupla.

Assim além de “O sonho” e “Momentos” a dupla fazia outras músicas serem conhecidas do público que aprovou de imediato. O sucesso aumentava e a caravana ficava pequena para eles.

Ainda mais porque “Momentos” começava a quebrar a barreira da programação funk e tocar em outros tipos de programa. Ainda de forma tímida, mas pelo menos no Rio de Janeiro a canção começava a ficar conhecida.

Lucas, líder da dupla via a chance aparecer e não queria desperdiçar. Cobrava Mustang pedindo shows exclusivos e lançamento de um cd próprio.

Mustang discordava, achava precipitado e assim começaram atritos entre os dois. Lucas era apressado, sentia a inspiração a flor da pele, a vontade de alcançar sucesso e independência financeira explodia e ele confiava muito em si. Sabia que tinha capacidade.

Talvez faltasse esse confiança em Mustang e assim o caminho dos dois parecia separado.

Depois de uma apresentação no baile do Dendê Lucas, Jonas e Mayara dançavam e se divertiam ao som de funks de duplo sentido no meio da quadra quando Lucas pediu licença contando que precisava ir ao banheiro.

Enquanto urinava chegou um homem pra urinar ao lado. O homem olhando para frente disse “parabéns”.

Lucas se espantou e antes que falasse algo o homem riu e falou que pegara mal seu comentário, mas não era sobre o que ele pensava e sim pelo show.

Lucas deu um suspiro aliviado e respondeu “obrigado” enquanto subia o ziper e ia até a pia lavar as mãos. O homem foi atrás e perguntou e eles tinham empresário.

Lucas lavando as mãos contou que trabalhava com DJ Mustang, o homem respondeu que o conhecia e perguntou se a dupla tinha contrato assinado com ele e o menino respondeu que não.

O homem então acabou de lavar as mãos, secou, tirou um cartão do bolso e colocou em cima da pia aonde Lucas ainda se limpava.

Deixou lá e disse que se Lucas quisesse ganhar dinheiro e ficar famoso que o ligasse segunda de manhã. Disse e saiu do banheiro.

Lucas pegou o cartão e ali viu o nome do homem Wilson Mendes.

Segunda de manhã ligou e de tarde já estava no escritório de Wilson conversando. O homem contou que a dupla era muito talentosa para ficar restrita a caravanas e participação em cd do Mustang. Era hora de pensar mais alto, shows próprios e cd só pra eles.

Lucas ficou maravilhado com as coisas que Wilson dizia. Era tudo que ele queria ouvir e fazer. O empresário disse que queria assinar um contrato com eles e promovê-los, fazer com que eles chegassem a fama e ficassem ricos, mas para isso teriam que se livrar de Mustang.

Lucas foi embora com aquela conversa na mente e foi se aconselhar com Mayara. A moça disse que não entendia muito bem de negócios, mas que se quisesse os dois podiam consultar o seu pai.

O rapaz não achou uma boa idéia, mas Mayara mandou que ele relaxasse que o pai não era tão ruim assim.

Foram até a casa dela e o pai olhando o proposto por Wilson disse que era uma boa pra dupla, uma chance de expansão e ganhar dinheiro. Lucas agradeceu e saiu com Mayara.

Quando saíram o pai da menina disse pra esposa que do jeito que a coisa ia seria a filha deles que daria o “golpe do baú”.

Lucas conversou com Léo e o parceiro concordou que era hora de mudança. Os dois comunicaram a decisão a Mustang de sair da caravana. Evidente que ficaram mágoas e acusações de Mustang de traição.

Dessa forma Lucas e Léo assinaram contrato com Wilson Mendes para buscar uma nova expectativa de carreira.

A dupla começou a fazer shows por todo o Rio de Janeiro todos os finais de semana. Com algum tempo já se apresentavam no Espírito Santo, interior de Minas Gerais e de São Paulo. Eram cerca de três shows por final de semana, doze por mês que fez com que eles não precisassem mais trabalhar como pedreiros.

Que fez com que Lucas entrasse em uma auto-escola e conseguisse comprar seu primeiro carro, um carro usado ainda, mas que lhe deu grande orgulho.

Léo conseguiu comprar uma casinha no Dendê para morar com Jussara e Léozinho e Lucas fazer uma reforma na casa da mãe.

A situação ia muito bem. Mayara e Lucas felizes com os pais da moça aceitando o namoro. Jonas trabalhando com a dupla de funk sendo uma espécie de “faz tudo”. Jurema, com ajuda de Lucas montando um serviço de “quentinhas” e vendendo comida no morro.

Morro que continuava turbulento. Não eram poucas ainda as vezes que Lucas era impedido de subir por tiroteios, a vantagem que agora podia dormir na casa de Mayara quando ocorria.

E Lucas escrevia, escrevia muito. Wilson pediu ao garoto quatorze músicas para que lançassem o cd da dupla

E a melhor das notícias. Jéssica grávida de seu primeiro filho.

Tudo corria bem para todos, menos para Balão que continuava bebendo muito e não foram poucas as vezes que teve que ser carregado para a casa do irmão. 

Lucas tentava ajudar o pai que se recusava a receber.

Uma noite a dupla acabou o show e o celular de Lucas tocou. Era Jéssica nervosa que procuraram pra dizer que o pai passou mal e estava em um hospital.

Lucas pegou o carro e foi correndo ao hospital. Era um hospital público e Jéssica já estava no local chorando que o pai estava largado em uma maca sem atendimento. Lucas tentou em vão que alguém atendesse o pai até que pediu ajuda para que lhe colocassem em uma cadeira de rodas que levaria a um hospital particular.

Levou o pai para o hospital e dessa vez não teria que arrumar dinheiro com tráfico nem assaltar para arrumar o dinheiro, ele tinha.

Perguntou a Jéssica o que o pai tinha e ela respondeu que não sabia direito.
Apenas que o tio comentou que ele mal se alimentava, sem apetive, emagrecendo, fraco e estava vomitando sangue desde a manhã.

Chegou ao hospital e o pai foi levado. O médico contou que faria uns exames e Lucas respondeu que sem problemas, cuidaria de tudo.

Algum tempo depois saiu o diagnóstico. Balão estava em avançado estágio de cirrose. Lucas sentado à frente do médico fechou os olhos como se sentisse uma punhalada. O médico completou que ele precisaria muito da família e tomar algumas precauções e fazer tratamento.

Lucas foi pra casa e com a família reunida contou a situação. Jonas perguntou o que fazer e nesse momento Lucas olhou para a mãe. Jurema entendeu a gravidade da situação e mandou que o filho levasse o pai para casa.

Lucas pegou o pai que recebeu alta e levou de volta pra casa. Balão entrou e ironizando comentou que as coisas melhoraram bastante sem a presença dele. Lucas pediu que o pai sentasse e que o ouvisse.

Balão ouviu a tudo quieto e no fim Lucas perguntou se ele não tinha nada a dizer. Balão respondeu que precisava beber algo pra enfrentar aquela situação. 

Lucas irritado se levantou e gritou com o pai que ele não podia mais beber senão morria.

Mas não era fácil tomar conta daquele homem.  Balão estava mais fraco, mais acaado, não ousava nem chegar perto do rosto de Jurema com sua mão, mas continuava irresponsável. Esquecia o horário dos remedios, deixava de tomar e bebia as escondidas.

Acabou parando em hospital de novo e antes que Lucas lhe desse uma bronca pediu ajuda ao filho contando que não queria morrer.

Dessa forma Lucas levou o pai até uma reunião do A.A. Pararam com o carro na frente e Balão falou que não tinha coragem de entrar. Lucas então contou de certa vez não atendendo a ordem da mãe não dormiu cedo. Era segunda de carnaval e a União da Ilha desfilaria, desfilaria com samba dele.

Lucas orgulhoso ligou a televisão e viu repórter da Globo entrevistando o pai. O pai ali bem vestido com terno branco, gravata nas cores da escola, azul e vermelho e chapéu branco. Lindo com grande sorriso nos lábios falando da emoção da avenida cantar seu samba.

Balão com lágrimas nos olhos ouvia o filho falar e Lucas contou que fingia se irritar quando criança lhe chamavam de “Balãozinho”, na verdade tinha muito orgulho do pai poeta e vencedor.

Completou pedindo que o pai entrasse e ganhasse mais esse “samba” para ele e sua família, mostrasse que ele era o Balão, o maior compositor da história da União da Ilha.

Balão sem dizer nada limpou as lágrimas, deu um beijo no rosto do filho e desceu do carro.

Do lado de dentro Balão ouviu os relatos de pessoas na mesma situação que ele e quando perguntado se queria falar algo se levantou e comunicou “Eu me chamo Waldomiro Violi e sou alcóolatra”.  

A vida de Lucas prosseguia. Ajudava o pai que dessa vez levava o tratamento a sério e continuava sua carreira. Já tinha dez músicas prontas e a dupla foi contratada para se apresentar todas as terças a noite numa casa de shows da Barra da Tijuca, a “So Kanas”. Casa conhecida e muito frequentada pela classe A.

E ali Lucas e Léo faziam mauricinhos e patricinhas se requebrarem até o chão.

Já eram quase vinte shows por mês. Música estourada nas rádios do Rio de Janeiro. Até “O sonho” entrou no nas rádios comerciais e as duas músicas estavam entre as dez mais executadas nas rádios cariocas.

Até que “Momentos” alcançou o primeiro lugar no Rio de Janeiro. Lucas, Léo e Wilson estouraram champanhe, brindaram e Wilson comunicou que eles se apresentariam na televisão em rede nacional.

Lucas incrédulo sentou e perguntou que história era aquela. Wilsou explicou que tinha seus contatos e conseguiu encaixar a dupla no programa musical que a Globo transmitia aos domingos de tarde.

Léo com os olhos vidrados gritou “puta que pariu” e abraçou o amigo. Os dois que desde garotos viam o tal programa, líder de audiência há anos agora se apresentariam nele pro Brasil inteiro.

Em casa Lucas brindou com a família tomando limonada em respeito a Balão. O pai chegou ao rapaz e disse que a vida era irônica, ele sempre sonhou em alcançar essas coisas e quem estava conseguindo era o filho.

Lucas virou para o pai e respondeu que era o sangue. Nele tinha talento herdado do pai. Balão abraçou o filho e pediu que ele “mostrasse ao Brasil a força de nosso sangue”.

O programa seria ao vivo e Lucas e Léo deslumbrados olhavam o camarim reservado a eles. Entregaram frutas a eles e Léo perguntou se podia comer. Lucas debochando respondeu que sim, mas teriam que pagar.

Wilson respondeu que era brincadeira do amigo e poderia comer sim. Léo ia colocando maçã na boca e na hora Lucas falou pra ele tomar cuidado pra ver se não era de verdade.

Léo parou na hora e Lucas rindo contou que estava brincando e ele podia comer sim.

Depois de um tempo foram para a entrada do palco aguardando a hora de ser chamados. Wilson mandou que eles relaxassem e entrassem naquele palco pra cantar como sempre fizeram como se estivessem se apresentando no baile do Dendê.

O apresentador anunciou e a dupla entrou sob aplausos do público. O apresentador pediu que falassem um pouco sobre eles e Lucas contou da origem pobre no morro do Dendê e o concurso que venceram agradecendo a DJ Mustang.

O apresentador pediu que eles cantassem então o hit do momento fazendo trocadilho com o nome da música e eles cantaram “Momentos”.

A apresentação foi um sucesso e depois que encerrou Mayara ligou para o celular de Lucas contando do nascimento da filha de Jéssica. Uma menina linda com nome de Sophia.

Lucas sorriu e disse que encontraria a família na maternidade. Assim Lucas, Léo e Wilson saíram do local cada um em seu carro.

Lucas feliz em seu carro ligou o som e por coincidência tocava sua música na rádio. Era o sucesso acontecendo, o sonho de muitos anos. Ele finalmente sentia que estava vencendo, se tornando alguém.

Andou mais alguns metros com o carro e uma patrulinha emparelhou pedindo que ele parasse. Lucas aceitou e parou.

Pacientemente esperou que os dois policiais descessem da viatura e fossem até sua janela pedir os documentos do carro. Lucas mostrou, estava tudo em dia. Os policiais examinaram, viram que estava tudo ok e um deles falou “desce do carro vagabundo”.

Lucas não gostou do tratamento e desceu reclamando. Tomou tapa na cara do outro que disse “cala a boca macaco, quer morrer?”. Detalhe, o que lhe chamou de “macaco” também era negro.

Lucas ficou quieto e esperou que os dois acabassem de revistar o carro. Não encontraram nada. Saíram do carro com o policial branco ironizando e perguntando onde um crioulo daquele tinha arrumado dinheiro para comprar um carro bom.

Lucas respondeu que era trabalhador, cantor. Os policiais riram e falaram que só se fosse cantor de funk ou pagode. Lucas respondeu que eles estavam certos, era cantor de funk.

Os policiais gargalharam e o negro perguntou desde quando funk era música, eram só uns ruídos com letra de sacanagem e perguntou se ele fazia letra de apologia ao comando vermelho ou terceiro comando.

Lucas nervoso disse que não ele fazia canções românticas e o negro chegou perto, deu outro tapa em seu rosto e falou “você tá mentindo macaco, você faz música pra traficante”.

Lucas respondia que não e tomava mais tapas do policial mandando que ele assumisse. Ele chorando continuava falando que não até que o policial tirou uma arma e apontou pra sua cabeça pergutando se ele já tinha visto uma dessas.

Lucas chorava, respondia nada e o policial guardou a arma mandando que ele fosse embora. Lucas entrou rapidamente no carro e o outro policial perguntou se ele não estava esquecendo nada.

O rapaz olhou pro policial com cara de não entender o policial sorrindo respondeu “o da cerveja”. Lucas abriu a carteira e tirou uma nota de cinquenta reais. O policial pegou e falou “a irmã dessa que tá lá dentro também”. Lucas entregou a outra nota e eles mandaram que ele acelerasse e fosse embora.
Lucas acelerou e foi embora chorando de ódio.

Podia ser trabalhador, criar músicas, ajudar a fermentar a cultura desse país, ganhar dinheiro, ser famoso e aparecer na tv, mas não adiantava.

Ele era negro e isso no Brasil é crime.





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