SESSENTA ANOS ATRAVESSANDO O MAR


E hoje é aniversário da União da Ilha. Tenho uma relação curiosa com a escola, acho que mal definida. Sabe aquele casal que se ama, mas que não consegue se entender?  Ou então quando você é bem sucedido em algo, mas falta alguma coisa? Pois é, sou eu com a União da Ilha.

São sessenta anos de glórias e uma história linda. Não conquistou títulos? Azar do carnaval. Garanto que se a União da Ilha tivesse conquistado alguns títulos nos anos setenta o carnaval de hoje seria bem diferente.

Poderia dizer que a União da Ilha tem um dos melhores acervos de samba-enredo do nosso carnaval. Sim, seria verdade, mas pouco, muito pouco pelo que a escola produziu até hoje. A União da Ilha tem um dos melhores acervos da MPB. Se a União da Ilha fosse um artista de MPB seria daqueles cultuados. Daqueles que marca um show num Canecão que vira temporada lotada.

Sim, eu sei que o Canecão fechou, foi só um exemplo seu chato.

Os sambas “O amanhã” e “É hoje” são conhecidos mundialmente. Outro dia “O amanhã” estava na novela “Salve Jorge” e no comercial de um grande banco. “É hoje” foi tocada no estádio de Wembley no jogo entre Brasil x Inglaterra. Seguramente estão junto com “Peguei um Ita no Norte” e “festa para um rei Negro” do Salgueiro entre os sambas de enredo mais famosos já feitos.

Só que a União da Ilha não tem apenas esses sambas. Tem “Festa Profana”, o samba que pra mim é a síntese do carnaval, o porre de felicidade lançando perfume no cangote da menina. Tem “Domingo” e sua poesia linda e apaixonante sobre o Rio de Janeiro. A sutileza de um amanhecer.

E tem outros grandes sambas também. “Lendas e festas da Yabás”, “Confins de Vila Monte”, “Bom Bonito e Barato”, “1910 deu burro na cabeça”, “Assombrações”, “Sonhar com rei da João”, “De bar em bar Didi um poeta”, “Sou mais minha Ilha”, “Abrakadabra, o despertar dos mágicos”, “A viagem da pintada encantada”, “Fatumbi, a Ilha de Todos os santos”, “A União faz a força com muita energia”. Enfim, grandes sambas que fizeram a história da agremiação que pode não ter a maior torcida, mas é a mais amada do planeta.

Escola de três gênios da raça. Didi, Franco e Aroldo Melodia. De Leôncio, Dito, Mestre Mundo, Robertinho Devagar, João Sergio, Waldir da Vala, Maria Augusta, Edinho Capeta, Mestre Paulão, Mestre Bira, Mestre Odilon, Quinho, Mestrinho, Aurinho da Ilha, Márcio André, Djalma Falcão, Bujão, J.Brito, Carlinhos Fuzil, Mauricio 100, Marquinhus do Banjo, Almir da Ilha, Bicudo, Tia Noêmia, Deise Nunes, Paulo Amargoso, Peixinho, Mauricio Gazzelle e tantos outros imortais.

De Gugu das Candongas que pra mim é o maior compositor da escola da atualidade. Do poeta Ginho. Da juventude de Junior Nova Geração, Vinicius do Cavaco, Ronald, Cesinha, Raphael Ilha, Fabio Sol, Fabiano Fernandes, Marcinho Filho, Gabriel Fraga, Lobo Jr, Wagnão, Bruno Revelação. De guerreiros como Walkir, Roger Linhares, Cadinho da Ilha, Flavinho Queiroga, Eduardo Conti, Mestre Riquinho, Alex de Souza, Bruna Bruno, Jorginho Rodrigues, Serjão do cavaco.

Do maior cantor de samba-enredo da atualidade Ito Melodia. União da Ilha do presidente Ney Fillardi que tirou a escola da escuridão do acesso, oito anos lá sem perspectivas de volta e colocou no especial sendo respeitada e com quadra nova e cheia.   

União da Ilha muito amada, União da Ilha de muitos amores. Tantos que com certeza me fez cometer injustiças e não citar nomes aqui. 

A minha União da Ilha.

União da Ilha que descobri que existia na apuração do carnaval de 1985 quando eu, na ocasião torcedor da Mocidade e sendo campeão com ela, descobri que tinha uma escola do meu bairro sendo rebaixada e “virei a casaca”. Não fui campeão com a Mocidade, não fui até hoje, mas não me arrependo.

União da Ilha que me fazia muito menino ainda, sem entender nada da vida, quanto mais de samba, ficar acordado de madrugada sozinho vendo seu desfile pela tv com lágrimas nos olhos. Que morando no Mato Grosso na adolescência me fez não sair com amigos pra curtir carnaval e ficar com radinho de pilha e tv lhe assistindo.

A escola que fiz meu primeiro samba. Que fiz mais alguns outros dando com os burros n`água, mas sonhando com o dia que venceria um samba em seu solo sagrado.

Não foi em sua quadra, foi na Portuguesa, mas aconteceu no carnaval de 2012. Apenas quatro versos, mas que me  fizeram a pessoa mais feliz do mundo e a mais grata. Grata ao presidente Ney, Marcio André, Djalma Falcão e a meus parceiros Roger Linhares, Cadinho da Ilha, Carlinhos Fuzil, Fabiano Fernandes e Jorginho Rodrigues por darem oportunidade àquele menino que aos oito anos se apaixonou conseguir levar esse amor ao altar.

Um amor infinito, eterno não importando embaixo de qual bandeira eu esteja. Um amor forte mesmo com algumas mágoas como achar que não sou justo nela, reconhecido pelo que já fiz no samba como sou em tantas outras sendo algumas que não tenho nem 10% desse amor e carinho.

Mas faz parte da vida. Se eu acho que isso não ocorre é devido o que escrevi no início da coluna “a história mal resolvida” e com certeza a culpa é minha. A União da Ilha está mal acostumada com tantos grandes sambas em sua história  assumo que ainda não fiz um desses pra ela.

Mas sou chato, obstinado assim como aquele garoto que vencia o sono, assim como o mar lutando com o rochedo e essa nossa história, esse nosso caso de amor só está começando.

Sei que meu nome está ai no cantinho como baluarte, mas quero mais, quero que fique do tamanho do amor que tenho por você União da Ilha. Mas enquanto isso não ocorre só posso lhe reverenciar e agradecer por hoje ser sambista. Se sou devo a você.

Azul vermelho e branco são as cores da minha escola querida e do meu orgulho.

Parabéns Ilha!! É hoje o dia da alegria!!

Ps. Um adendo que faltou na coluna sobre Hugo Chavez. Pior que a ditadura política é a ditadura do pensamento. Na ditadura política você pensa, mas é impedido de falar. Na do pensamento você pode até falar, mas é impedido de pensar.  

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