O NOVO FLAMENGO


*Coluna publicada no Blog Ouro de Tolo em 28/4/2013

Começo a coluna dizendo que como costumo falar entendo de nada e dou pitaco em tudo. Não sou especialista em administração ou finanças. Essa semana tivemos texto muito bom aqui sobre os cem dias da gestão rubro-negra de uma forma técnica, feita por especialista. O que vocês lerão será o texto de um torcedor com linguajar e visão de um torcedor. Apenas isso.

O Flamengo encerrou nesse último fim de semana sua participação no campeonato estadual do Rio. Campanha pífia como a do ano passado sendo que esse ano conseguiu a proeza de não se classificar nem para a semifinal da Taça Rio. Fez a melhor campanha da Taça Guanabara e não chegou à final.

Como no ano passado ganhamos férias antes de junho. Nos últimos dez anos de estaduais o resultado obtido vem refletindo no brasileiro e quando são fracos o nacional é de sofrimento. O elenco é uma mescla de jovens imaturos com velhos que não inspiram confiança. Não há perspectiva de grande melhora nesse elenco e os dirigentes acabaram de anunciar uma dívida de 750 milhões.

Dívida que em um país sério a instituição teria sido fechada e só poderia voltar na quarta divisão.

Cenário de caos, de horror, de tragédia. Certeza que a torcida ta em desespero, xingando, ameaçando, quebrando tudo, certo?

Errado. A torcida está feliz, esperançosa e interagindo com o clube. Apoiando não em estádios, mas nas atitudes como raramente fez.

Como pode isso? Como pode esse cenário tenebroso pintado acima trazer esperança e apoio?

Simples. Isso é um reflexo da confiança que pessoas conseguem transmitir. Acho que tem um filme ou uma peça de teatro que tem como título “Eu ouviria as piores notícias do mundo de seus lindos lábios”.

O Flamengo é o clube mais popular do país. Tem torcida por todo território nacional chegando a ser a maior torcida do Norte e Nordeste. Uma marca forte, centenária, vitoriosa que nas mãos de qualquer pessoa competente teria uma estrutura invejável e nadaria em dinheiro.

Aí que está o problema.

O Flamengo ganhou tudo na primeira metade dos anos 80. Todos os títulos possíveis para uma equipe de futebol com um esquadrão fantástico base da decantada seleção brasileira da época. No meio de 1982 o Flamengo simplesmente era campeão carioca, brasileiro, Libertadores e mundial ao mesmo tempo!! Tinha o melhor jogador do mundo, Zico e uma estrutura boa para a ocasião em que até a Placar fez uma matéria com a manchete de capa perguntando “Por quê o Corinthians não é um Flamengo?”.

Hoje a pergunta certa seria “Por quê o Flamengo não é um Corinthians?” E essa explicação é muito fácil.

A questão é que os clubes não são empresas com donos, não são entidades privadas então as pessoas que passaram no comando do Flamengo daquele período até hoje não tiveram com o clube a pena e o cuidado que teriam se fosse uma empresa sua em que refletisse financeiramente nele ou pudesse lhe ocasionar uma prisão.

Trinta anos de desmandos, de roubos, corrupção, ingenuidade, incompetência, arroubos, paixão no lugar da razão fizeram que o clube deteriorasse dia a dia.

Contratação bombásticas a cada ano sem ter como pagar, reforços anunciados a cada derrota no campo, atraso de salários, não pagamento de impostos, não pagamento a clubes quando contratava, falta de responsabilidade em acordos feitos, falta de noção do tamanho da grandeza do clube e sua marca. Falta de tudo.

Começou a perder credibilidade. Grandes jogadores não quiseram vir pra cá, com o tempo os médios também começaram a se recusar. Os que vinham se envolviam em manchetes policiais e problemas de comportamento. Alguns saíam e zombavam dizendo que fingiam que pagavam então fingiam que jogavam. O Flamengo começou a percorrer um caminho perigoso que se tornou mais ainda na gestão Patrícia Amorim.

Uma gestão equivocada, com uma série de erros e humilhações contra o clube que teve seu auge no caso Ronaldinho Gaúcho e a forma de sua saída manchando o clube mundialmente.

O Flamengo de 1992 pra cá ganhou dois títulos nacionais e um sul americano. Isso em 21 anos. De 1980 a 1983 ganhou três brasileiros, um sul americano e um mundial. A falta de credibilidade pra grandes contratações somada ao fraco trabalho de base refletiram em campo com o clube se acostumando a lutar mais contra rebaixamento que por títulos. 

Aí surgiu a esperança no fim do ano passado. Um grupo de empresários bem sucedidos que ganharam vários nomes como “smurfs”, “bonde dos carecas” e o nome oficial “chapa azul” decidiu se juntar e concorrer. O candidato natural, Wallim Vasconcellos foi impugnado e Eduardo Bandeira de Mello, funcionário do BNDES assumiu a cabeça da chapa e eles venceram.     

Chegaram falando com firmeza. Recusaram negócios que lhe dariam status por grandes jogadores. Fizeram cortes polêmicos como a venda do principal jogador e o desmanche de esportes olímpicos. Assumiram que o clube tinha uma grande dívida.

Assumiram com direito a entrevista coletiva, a informações no site. Trinta anos de irresponsabilidade causaram 750 milhões de dívidas, penhoras, todo o dinheiro que entrava era bloqueado. O Clube recebeu 80 milhões até agora esse ano e teve que pagar 60 milhões em dívidas.

Mas com todos esses problemas aparecendo veio o lado bom. Falaram na cara, olhos nos olhos, bateram no peito que é terrível, mas tem solução e mostraram como.

Arregaçaram as mangas. Melhoraram o contrato da Adidas transformando no maior patrocínio de material esportivo do país. Botaram a cara para os credores governamentais. Assumiram toda a dívida e pagaram um dinheiro violento para poder parcelar e conseguir as certidões negativas para poder negociar benefícios aos esportes olímpicos e patrocínio estatal.

Lançaram o sócio torcedor que alcançou 16 mil sócios em menos de um mês. Estão prestes a fechar um dos maiores patrocínios de camisa do país com a Caixa e podem vir outros. Estão criando um fundo de investimento para compra e venda de jogadores. Estão trabalhando.

Aos poucos tentando levantar a casa arruinada. Tijolo por tijolo, cimento por cimento, num trabalho difícil e traumático.

São perfeitos? Não, muito longe disso. Estruturalmente e financeiramente estão fantásticos, mas acho que podiam lidar melhor com o futebol. Não acho que foram corretos na hora de dispensa de jogadores, a forma como foram feitas e como estão “fritando” alguns jogadores nesse momento. Não é transparente a relação com o empresário Carlos Leite aonde “refugos” de outros clubes vieram para que reforços chegassem. Cortaram gastos em terrenos perigosos como no comando do futebol.   

Acho que mesmo tendo que ter o rigor na gestão futebol não sobrevive sem grandes jogadores, ainda mais agora que é top 5 da Adidas e os outros 4 tem craques e o Flamengo não tem referência. 

No contrato da Adidas existem cláusulas sobre atuações em competições e vendas de camisas. Sem a referência a venda não será grande como deveria. São empresários inteligentes, vencedores, tem que ter criatividade de contratar um grande jogador sem combalir ainda mais as finanças do clube.

Também acho o sócio torcedor caro e com poucas coisas em troca como benefícios. Concordo que o maior interesse agora é em reerguer o Flamengo e o maior benefício é o Flamengo forte e por isso farei. Quarenta reais eu gasto por pizza a cada final de semana. Mas o discurso, principalmente da área de marketing, é elitista.

O ST está indo bem. Associar 16 mil por 40 reais dá mais que 25 mil por 15 reais, mas tem muita gente que quer ajudar e não consegue e acabam injustamente chamando essas pessoas de “simpatizantes”. O Flamengo, como eu já disse, é nacional, de todas as classes e tem que atender a todos.

Confio nessa gestão. Sofro com o futebol, tenho raiva às vezes, mas respiro fundo e tento entender que é um mal momentâneo para o bem no futuro. Esse remédio que estamos tomando é amargo, mas é o único que cura, não tem jeito.

Sempre que o rubro-negro reclamar do time ou dívidas tem que lembrar de Márcio Braga, George Helal, Luis Augusto Velloso, Kleber Leite, Edmundo dos Santos Silva, Hélio Ferraz, Patrícia Amorim..Esses são os principais responsáveis e tem que pagar por tudo que fizeram para o Flamengo.

Mas não vão pagar. Aqui é Brasil.

Confio. Não cegamente como a maioria, não puxando o saco como muitos. Confio porque não me resta alternativa e até agora não me deram motivos para não confiar.

O jeito é esperar e torcer para que tudo dê certo. Que o gigante acorde com uma luz azul no fim do túnel preto e vermelho.

E possamos voltar a cantar ao mundo inteiro a alegria de ser rubro-negro.   










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