NEYMAR E O FUTEBOL DE HOJE


*Coluna publicada no Blog Ouro de Tolo em 2/6/2013

E o Neymar se foi. Uma saída esperada há anos. O garoto despontou no fim de 2009 com uma curva ascendente fantástica. Virou não apenas o principal jogador do Brasil como uma das maiores celebridades de nosso país completando 21 anos apenas agora.

E foi embora deixando órfãos. Não apenas os torcedores do Santos, os amantes do bom futebol, as Maria chuteiras, mas também o mercado publicitário e midiático do Brasil.

Evidente que ele não perderá patrocínios com a mudança. Neymar tem dez patrocinadores pessoais que lhe ajudaram a mesmo jogando no Brasil a ter um salário maior que de Cristiano Ronaldo jogando no Real Madrid. Isso mostra que sua mudança não é por dinheiro, mas sim por evolução técnica e tática de seu futebol.

Prova que pelo menos a economia não vem sendo o problema do futebol brasileiro já que enquanto conseguiram segurar o Neymar aqui tanto tempo o Messi nunca jogou na Argentina.

Mas jogando na Espanha Neymar não estará mais disponível a fazer comerciais a todo o momento. Além da distância, o Barcelona é um clube mais sério nesse sentido ao contrário do rival merengue. Hoje temos uma invasão de Neymar na televisão com inúmeros comerciais das mais variadas marcas além de participações em programas de tv, não só programas esportivos, mas de todos os tipos e até novelas como ocorreu essa semana.

No fim de semana tivemos uma overdose de Neymar na imprensa. Trataram a saída do menino como o acontecimento do ano. Algumas reportagens exageraram no teor e fizeram uma simples despedida para Europa parecer morte.

Evidente que ele merece tudo o que tem hoje e irá buscar. Além de ser muito bom de bola é bom menino (muito bem orientado), não se mete em confusões (desde o problema com o técnico Dorival Junior no Santos), bom exemplo, herói das crianças, mantém os mesmos amigos de infância, sempre está perto do filho e tem um imenso carisma ajudado pelo seu jeito de garoto.

Mas não é o primeiro, nem o último jogador a ir embora. Por quê essa comoção toda?

Isso se explica quando vejo estaduais com média de dois mil pagantes, jogos aqui no Rio mesmo, aos montes, não passando de mil pagantes e enquanto estava sábado com amigos em um restaurante ver o local parado com as pessoas vendo a final da Uefa Champions League entre Bayern de Munique e Borussia Dortmund. Não só vendo como torcendo pelos times e vibrando.

Enquanto o futebol se globaliza o brasileiro agoniza. 

E por quê isso acontece?

Acontece porque vários fatores atrapalham o futebol brasileiro hoje em dia. Vivemos uma entressafra, alguns bons jogadores, poucos craques e jogadores que poderiam fazer a diferença para o país se omitindo, desistindo de jogar ou não se estabelecendo como líderes. Casos de Adriano, Kaká, Ronaldinho Gaúcho e Robinho.

Entressafra na minha opinião vem da falta de trabalho de base também. Além de não termos bons técnicos nem na base nem nas equipes principais. Os principais técnicos do país de hoje esqueceram da essência do nosso futebol com esquemas ultrapassados e retranqueiros, os clubes pararam de revelar jogadores.

E isso para mim vem muito da elitização do nosso futebol.

Aos poucos matam os clubes pequenos privilegiando os grandes seja nas competições quanto nas cotas. Os pequenos conseguiam
ganhar algum dinheiro revelando jogadores e vendendo. Mas com a lei Pelé acabou o passe e acabando o passe não vale mais a pena para esses clubes gastarem formando um jogador que logo assina com um empresário e deixa o clube a ver navios.

Os clubes pequenos que ficaram menores com a lei Pelé e relegados a estaduais deficitários não revelam mais e o Brasil sempre teve grandes jogadores revelados por esses clubes.

Só lembrar que Ronaldo surgiu no São Cristóvão, Romário no Olaria, Rivaldo chegou ao Corinthians vindo do Mogi-Mirim, entre outros.

A matemática é simples. Quanto menos oportunidades de aparecer, menos espaço pra mostrar futebol menos garotos surgirão e menos craques teremos. Não é preciso ser muito inteligente para chegar nessa equação. Acabando os estaduais como alguns seres inteligentes querem aí que teremos menos jogadores revelados mesmo.

Pregam o fim dos estaduais esquecendo que o Brasil não é um país do tamanho de uma Espanha. Fechando os grandes num “clube do bolinha” milhares de garotos por esse país que poderiam ser revelados vão ficar apenas no “poderiam”. 
Elitizando e lhe deixando nas mãos de empresários daqui a pouco nãos nos classificaremos mais para copas.

Além disso ocorrer temos agora a massificação do futebol europeu. Graças as tvs a cabo qualquer um pode ver jogo até do campeonato ucraniano e times da Europa conseguem ficar tão populares aqui quanto os brasileiros.

Todas as semanas temos Barcelona e Real Madrid na televisão. Vemos mais esses times que os grandes do Brasil já que aqui são doze e eles têm que revezar nas telas enquanto lá não.

Reparem. Quem aparece mais na TV? Flamengo ou Barcelona?

Aliado a isso graças ao calendário atual os clubes brasileiros não excursionam mais. Não há espaço nesse calendário. Os nossos times não vão mais a Europa jogar Ramon de Carranza, Teresa Herrera com os grandes europeus e adquirir conhecimento com outros tipos de táticas.  

Isso não é o pior. Não fazem mais o famoso “Bye bye Brasil”. Não viajam mais pelo Norte e Nordeste para jogar para suas torcidas desses locais, para o público consumidor que vêm surgindo e fica órfão desses times.

Sabem o que acontece com isso?

Acontece que o torcedor do interior do país não vê seu time ao vivo. Seus filhos não pegam o amor que o pai tem por esse clube e o moleque vê na tv mais jogos dos times europeus que brasileiros.

O garoto vê os jogos europeus de grande nível e os brasileiros de nível baixo. Acabam torcendo pelos times de lá em um trabalho que a Rádio Nacional, por exemplo, fez nos anos 40 propagando os clubes cariocas por ser a única de alcance nacional.

Por causa disso já temos brasileiros tendo clubes europeus como times do coração. Já temos muitos garotos que não sonham jogar por clubes brasileiros nem pela seleção. Sonham jogar no Barcelona. Com isso junto a nossa elitização fechando portas e empresários inescrupulosos cada vez mais vemos jogos de fora e descobrimos jogadores brasileiros, jogadores que nunca ouvimos falar e muitas vezes naturalizados.

Não podemos desdenhar do poder da mídia como já disse no caso da Rádio Nacional. Existe sim a possibilidade de em quarenta anos termos um Barcelona ou Real Madrid entre os cinco de maior torcida do Brasil.

Está chegando uma Copa das Confederações e ano que vem uma Copa do Mundo. Pelo menos assim o Brasil volta a jogar em casa corrigindo mais um grande erro que vinha sendo cometido.  Mais uma chance de aproximar nossos bons jogadores (sim, ainda temos) da torcida brasileira, de fazer uma seleção de verdade que recupere o amor do torcedor e o futebol brasileiro voltar aos trilhos. 

Temos agora esses estádios novos, as arenas. Que saibam usar esses estádios modernos, lindos, aconchegantes e com cadeiras próximas aos campos aumentando a interatividade com o jogo em coisa positiva. Na recuperação desse elo de amor.

Que não façam o antigo geraldino desdentado com rádio de pilha no ombro virar um torcedor de gatonet e fiquem apenas os torcedores “coxinhas” nos estádios.

A recuperação do futebol brasileiro diante de um destino pessimista passa por tudo isso. Tem que começar hoje nesse 2 de junho que tem Brasil x Inglaterra no novo Maracanã.
E passa pelos pés do menino que foi embora. Do Neymar.

Que sua saída seja o começo da nossa volta.  
  




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