SÃO PAULO EM CINCO CARNAVAIS




Pra fechar a série “cinco carnavais” uma humilde homenagem a “terra da garoa”. Um carnaval diferente do nosso, mas tão apaixonado e apaixonante quanto e que envolve milhares de pessoas em sangue, suor e lágrimas há quase um século. Tão tradicional quanto do Rio de Janeiro.

Confesso que não sou grande conhecedor do carnaval paulistano então pedi colaboração de amigos que entendem melhor e junto com eles falaremos de cinco carnavais marcantes. Escolhemos cinco escolas para representar. Cinco entre dezenas de grandes agremiações e que fizeram história com esses desfiles.

Com isso fecho a série agradecendo aos amigos que se disponibilizaram a escrever sobre o momento de São Paulo que marcaram suas vidas como sambistas.

Vamos lá.  Vamos ao “São Paulo em cinco carnavais” agradecendo a Pedro Migão, Gabriel Curty, Leonardo Dahi e Luís Butti.   


LEANDRO DE ITAQUERA


Por Pedro Migão

A Leandro de Itaquera foi fundada do dia 03 de março de 1982. Venceu consecutivamente três grupos menores (1983/84/85) e em 1988 venceu o Grupo 1 (acesso paulistano da época), juntando-se pela primeira vez às grandes escolas de samba.

A agremiação partiu através de um pedido da menina Karen a seu pai, Leandro: queria uma escola de samba de presente. Leandro juntou-se a outros amigos do bairro e a escola foi fundada, sendo até hoje presidente.

Tem como símbolo o leão, representando força e liderança. Suas cores são o vermelho (representando a garra) e branco (paz).

Leandro de Itaquera de “Noite Tão Bela ‘João do Tamborim’” 1983, “A Grande Ilusão do Carnaval” 1984, “O Futuro a Deus Pertence” 1985, “Elo da Paz "o Arco-Íris do Oxumaré" - Festa na Senzala” 1988, “Querem Acabar Comigo” 1991, “Educação um Salto para a Liberdade ‘Por Paulo Freire’ 1999, “O leão guerreiro mostra a sua força! É a garra e a bravura do negro no quilombo da Leandro de Itaquera” 2012.

Vamos ao meu carnaval marcante da Leandro.


BABALOTIM - A HISTÓRIA DOS AFOXÉS 1989   


Samba de Clarice, Sandrinha, Grupo Relíquia e Thiago Lee.

Recentemente comprei um cd de sambas de enredo de São Paulo gravados pelo ex-Art Popular Leandro Lehart. Entre estes estava o deste desfile da Leandro de Itaquera, “Babalotim – A História dos Afoxés”, que é considerado não somente o melhor samba enredo da história da agremiação como um dos maiores da história do carnaval paulistano. Então fui pesquisar sobre o desfile.

O boneco Babalotim, vestido com roupas de cetim, é o símbolo dos Afoxés – inclusive sendo citado em outro grande samba sobre o assunto, “Afoxé”, da Acadêmicos do Cubango carioca.

1989 marcava a estreia da Leandro de Itaquera entre as grandes escolas paulistanas, ainda desfilando na passarela da Avenida Tiradentes. Para não fazer feio a escola se reforçou trazendo Mestre Lagrila para sua bateria e a puxadora, já famosa, Eliana de Lima.

O samba fez grande sucesso no pré carnaval, a ponto de ser cantado na passarela ainda antes da entrada da escola na avenida. O leitor pode observar pelo vídeo que o público cantava junto com a puxadora Eliana de Lima, inclusive com esta deixando a assistência cantar sozinha no irresistível refrão do meio.

Com fantasias e alegorias simples, apesar de numerosas (5 carros, 8 tripés e 4 quadripés), a escola ainda assim fez um belo desfile calcado no samba e na sua bateria, obtendo um honroso sétimo lugar em sua estreia junto às grandes escolas de samba paulistanas.

Para 2014 a agremiação cogitou a reedição do samba, mas acabou ao final optando por enredo sobre a Copa do Mundo de 2014 – que terá sua abertura em Itaquera, bairro onde a Leandro está situada.

 

ROSAS DE OURO


 Por Gabriel Curty.

Afilhada da Mangueira, a Sociedade Rosas de Ouro foi fundada no dia 18 de outubro de 1971. Desde 1975 no Grupo Especial do Carnaval de São Paulo a escola da Vila Brasilândia, Zona Norte da cidade, já conquistou sete campeonatos (1983, 84, 90, 91, 92, 94 e 2010).

A escola foi fundada por quatro admiradores do samba. José Luciano Tomás da Silva, João Roque "Cajé", José Benedito da Silva "Zelão" e o advogado Eduardo Basílio, tendo este último sido presidente da escola até 2003. A atual presidente é a viúva de Eduardo, Angelina Basílio. O nome é uma referência a uma condecoração que era dada às princesas católicas no século VII: o buquê de Rosas de Ouro. Nos anos 80, a escola se mudou para o bairro da Freguesia do Ó onde construiu sua quadra. O símbolo da escola é composto por três rosas douradas.

Suas cores são o azul e o rosa.

Rosas de Ouro de “A rua” 1975, “Sete cidades encantadas” 1976, “Nostalgia” 1983, “A velha academia berço dos heróis” 1984, “Até que enfim...”o sábado”” 1990, “De piloto de fogão a chefe da nação” 1991, “Non Ducor Duco”, qual é a minha cara?” 1992, “Sapoti” 1994, “Paixão nacional” 1995, “Quem plantou o palco, hoje é o espetáculo” 2001, “Bem-vindos à fábrica dos sonhos” 2009, “Os Condutores da Alegria, numa Fantástica Viagem aos Reinos da Folia” 2013.

Rosas de Ouro que agora conto o carnaval que mais me marcou.


CACAU: UM GRÃO PRECIOSO QUE VIROU CHOCOLATE, E SEM DÚVIDA SE TRANSFORMOU NO MELHOR PRESENTE 2010


Samba de Armênio Poesia, Aquiles da Vila, Chanel, Mauricio Paiva, Boldrini e Fred Vianna.

Após 16 anos sem conquistar um título, a azul e rosa apelou para um enredo patrocinado. Anteriormente chamado de “O Cacau é Show”, a escola teve de mexer inclusive no samba para não explicitar o nome do patrocinador.

Ao contrário do que muitos podem pensar, a escola conseguiu aproveitar tudo o que o tema tinha a oferecer. Com um samba leve e de fácil compreensão, a Rosas de Ouro levou o título daquele ano.

A agremiação iniciou seu desfile falando dos olmecas, uma das primitivas civilizações do mundo, que segundo a lenda, descobriram a planta que originou o cacau. O desfile esquentou, porém, quando passou o setor da dominação espanhola na América, com lindas alegorias e fantasias retratando o tempo de maias e astecas.

O desfile alcançou seu ápice quando a escola falou sobre a chegada do chocolate na Europa. Fantasias muito luxuosas conquistaram o público e os jurados.

Após isso, um setor falando sobre o patrocinador (a parte menos empolgante de todo o desfile) e um final retratando a Páscoa, data religiosa que sempre é popularmente relacionada aos ovos de Páscoa.

Com um desfile marcante, um samba com agradáveis variações melódicas e uma letra interessante, um show da bateria do Mestre Tornado e sem qualquer falha de harmonia e evolução, a Rosas de Ouro conquistou nota máxima em todos os quesitos e tornou-se heptacampeã. 

Ficou “na boca do povo, o cacau foi show”.



MOCIDADE ALEGRE


Por Leonardo Dahi

Em 1958, o então Prefeito de São Paulo Jânio Quadros fez uma forte publicidade em torno de um projeto de recuperação de alguns bondes da cidade. Alguns veículos estampavam os dizeres “Primeiros Bondes Recuperados Pela Prefeitura”. Então, um grupo de amigos, entre eles Juarez da Cruz, que saíam no Carnaval fantasiados de mulher, resolveram brincar com a situação.

Clamando pela volta dos prostíbulos do Bom Retiro, fechado anos antes pelo Governo do Estado, e das “mariposas” como eram conhecidas as suas “funcionárias”, os amigos criaram o Bloco Carnavalesco Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro.

Em 1963, um dos integrantes se recusou a sair fantasiado de mulher e todos resolveram se fantasiar de palhaços. O locutor da folia pelas ruas da cidade anunciou: “é um bloco muito alegre, um bloco de sujos, como existem muitos no Rio de Janeiro”. O grupo, já pensando em um novo bloco, ao parar para descansar, ficou com aquela fala na cabeça e resolveu fundar o Bloco Carnavalesco Mocidade Alegre.
 
O bloco foi crescendo e, em 1967, período em que surgia a primeira Federação das Escolas de São Paulo, se tornou a escola de samba Mocidade Alegre, conhecida como “a Morada do Samba”, situada no Bairro do Limão. É uma das mais tradicionais da cidade e tem nove títulos do Grupo Especial de São Paulo, sendo a atual bicampeã.

Mocidade Alegre de “São Paulo e seus Carnavais” 1971, “Embaixada de Bambas e Samba – a festa do povo” 1980, “50 anos de Comunicação – Moraes Sarmento” 1983, “O Cientista Poeta – Paulo Vanzolini” 1984, “A Espada da Liberdade – ‘Jornal O Estado de São Paulo’” 1992, “Do Rock ao Samba – Todo Mundo Maluco Beleza” 1995, “Essas maravilhosas mulheres ousadas” 1998, “Clara, Claridade... o Canto de Luz no Ylê da Mocidade” 2005, “Posso ser debochado e irreverente... Afinal, sou o riso dessa gente!” 2007, “Bem vindo a São Paulo, sabe por que? Porque São Paulo é tudo de bom!” 2008, “Da chama da Razão  ao Palco das Emoções... Sou Máquina, sou Vida, sou Coração pulsando forte na Avenida” 2009, “A Sedução Me Fez Provar, Me Entregar À Tentação... Da Versão Original, Qual Será o Final?” 2013.

Mocidade Alegre de cores vermelho, verde e branco e fundada em 24 de setembro de 1967 que eu conto agora o Carnaval que mais me marcou.


“OJUOBÁ – NO CÉU, OS OLHOS DO REI... NA TERRA, A MORADA DOS MILAGRES... NO CORAÇÃO, UM OBÁ MUITO AMADO!” (2012)


Samba de Fernando, Leandro Poeta, Renato Guerra, Rodrigo Minuetto, Thiago e Vitor Gabriel

A Mocidade Alegre sempre foi uma agremiação das mais tradicionais do Carnaval Paulistano. Porém, viveu um incômodo jejum de títulos que durou de 1980 a 2004. Depois desse título, e graças à Presidente Solange Bichara, que reestruturou a agremiação, se tornou uma das escolas mais fortes da cidade, aquela que sempre vem para ser campeã, conseguindo o título também em 2007 e em 2009.

Contudo, faltava aquele desfile incontestável, aquele samba histórico. O de 2009 era bom, mas faltava um que chegasse quebrando tudo. Em 2011, a escola veio belíssima com o enredo “Carrossel das Ilusões”, mas, devido a problemas na concentração, terminou em um incômodo sétimo lugar. 2012 teria que ser diferente. E foi.

2012 foi o ano do centenário do escritor Jorge Amado, homenageado por muitas escolas pelo Brasil. Porém, ao invés de ir para o caminho mais fácil, fazer uma biografia do autor e “passear” por suas obras no desfile, a Morada do Samba fez diferente. Mergulhou a fundo na “Tenda dos Milagres”, uma de suas principais obras, e contou a Bahia retratada neste livro.

Assim como a histórica obra publicada em 1969, falou de preconceito, capoeira, festas populares, tudo com uma temática afro muito forte. E daí surgiu um dos mais belos sambas da história do Carnaval de São Paulo.

Ele já começa quente no refrão principal, mas é na primeira parte que demonstra sua força, logo nos primeiros versos: “kaô! Kabecilê! / kaô, meu pai Xangô / ouça o clamor de Ojuobá! / É fogo! É trovão! É justiça!”. Ainda na primeira parte, diz: “raiou o sol / da Liberdade a quebrar correntes / e nessa terra o negro vence / com a proteção do Rei de Oyó!/ contra o preconceito ao seu povo / conduz a mão que escreve o mundo novo”.

O mais interessante, é que a partir do refrão do meio, o samba se transforma e, de crítico, passa a ser mais romântico. Exalta a mistura de raças, a pele negra dizendo que “linda é a cor do Brasil”. E isso é o mais impressionante deste samba: ele é forte, uma “porrada”, mas também é muito bonito, tanto na letra quanto na melodia.

E foi um Carnaval de superação. Poucas semanas antes do desfile, a escola sofreu um incêndio em seu barracão e quase perdeu tudo. E, no Anhembi, uma apresentação apoteótica, do nível do samba. Assim que a escola pisou na Avenida, já era possível cravar “é campeã”. Da Comissão de Frente ao último carro, a dúvida não era se ela venceria, mas sim se perderia ponto em alguma coisa, tamanha perfeição.

E de fato não perdeu. Até porque teve seu belíssimo Carnaval manchado por aquela confusão na apuração, que teve as últimas notas rasgadas. Mas certamente não perderia ponto nas duas últimas notas de Comissão de Frente, assim como não perdeu nos oito quesitos anteriores. Campeã com muita justiça, embora nem tenha feito a comemoração que merecia, já que só foi proclamada vencedora perto da meia-noite da terça-feira gorda.

A imagem que fica, porém, é a dessa linda homenagem a um dos maiores escritores da nossa história. Em 2012, o rufar do tambor ecoou e a Mocidade provou ter sangue guerreiro.



GAVIÕES DA FIEL


Por Luis Butti

O Grêmio Gaviões da Fiel, apesar de se tornar escola de samba, na realidade é uma torcida organizada que é a sua atividade principal. Ela nasceu no dia 1º de Julho de 1969, com as cores preto e branco, para fiscalizar a diretoria do Corinthians e ser um braço contra a ditadura militar. Sua prioridade, até hoje, é o amor ao Sport Club Corinthians Paulista.

A Folia nos Gaviões começou mais tarde do que a torcida organizada. Mais precisamente em 1975, quando passou a disputar nos concursos de blocos do carnaval paulistano.  Em treze Carnavais, venceu doze e foi vice-campeã em outro. Por ser muito superior aos demais blocos não teve saída: foi convidada a virar Escola de Samba em 1989, disputando o Grupo de Acesso.

De cara a Gaviões da Fiel ficou em segundo lugar no Acesso do Carnaval 1989 e subiu para o Grupo Especial em 1990. Caiu, mas logo voltou pra se tornar uma potência. De longe é a agremiação que mais atrai público para o Anhembi, IBOPE na tv, venda de cds e patrocinadores no Carnaval Paulistano fazendo com que atraísse o interesse da Rede Globo para transmitir o carnaval de São Paulo para todo o país, até então restrito ao estado de SP, e em outras emissoras.

Paralelo ao sucesso meteórico, vieram desfiles épicos. Um tetracampeonato (1995-1999-2002-2003), e diversos desfiles das Campeãs (NOTA: Diferente do Rio onde são as seis melhores desfilam em Sampa apenas as cinco melhores vão para as campeãs. Mesmo em boa parte dos anos tendo mais agremiações no Especial do que no Rio).

Rebaixamentos e um monte de voltas por cima também aconteceram, assim como alguns episódios não muito bacanas de violência e vandalismo, infelizmente comuns no Carnaval de São Paulo desde a época dos cordões, muito antes das torcidas organizadas.

Mas não é disto que o Villar me convidou a falar.

Gaviões da Fiel de “O preto e branco na avenida” 1989, “A dança das horas” 1991, “A saliva do santo e o veneno da Serpente” 1994, “Coisa boa é pra sempre” 1995, “O príncipe encoberto ou a busca de São Sebastião na ilha de São Luís do Maranhão” 1999, “Um vôo para a liberdade” 2000, “As cinco deusas encantadas na corte do rei Gavião” 2003, “Renasce, sacode a poeira e da a volta por cima” 2005, “Anchieta, José do Brasil” 2007, “Corinthians, minha vida, minha história, meu amor” 2010.

Agora o meu carnaval mais marcante.


XEQUE MATE 2002 


Samba de Ernesto Teixeira, José Rifai e Alemão do Cavaco.

Salve rapaziada do Blog “Trocando Em Miúdos”, beleza? Hoje o espaço em que os senhores irão me aturar (risos) é outro.

Fui convidado pelo amigo Aloisio Villar para, ao lado de mais quatro amigos, comentar aqui em seu blog na série dos cinco carnavais inesquecíveis das escolas de samba. Para falar sobre o Grêmio Gaviões da Fiel Torcida. Um pouquinho de sua história e de um carnaval da agremiação que particularmente acho o maior de todos.

Para vocês que me acompanham semanalmente no “Eu, Radamés Y Pelé”, não deve ser novidade para os senhores que sou corinthiano catedrático e torcedor dos Gaviões no Carnaval de São Paulo. Mas para você que me lê pela primeira vez fica a informação.

Se me perguntasse qual foi o desfile mais marcante da história, eu poderia citar 1995 do "Coisa Boa É Para Sempre", samba paulista mais conhecido no país. Poderia citar 2004 com o "Ideias e paixões, combustível das revoluções", na trágica queda, mas não citarei nenhum deles.

Meu desfile marcante do Grêmio Gaviões da Fiel Torcida é o "Xeque-Mate" de 2002.  Desfile este que para muitos é o maior desfile da história do carnaval paulistano pela situação adversa em que o mesmo aconteceu.  Diante uma chuva digna de "O mundo é uma bola" (Beija-Flor de Nilópolis 1986) os Gaviões entraram na avenida com um enredo sobre o xadrez fazendo um paralelo com a situação do país na época.

Lembrando que fevereiro de 2002 precedia a histórica e tão aguardada Eleição de Lula para a Presidência da República em outubro. 

Ou seja, um enredo popular, de cunho político, histórico e cultura, com o apoio maciço das arquibancadas e acontecendo de forma raçuda, sem perder a técnica e a estética mesmo com uma chuva que insistia em cair e alagar quase na altura dos calcanhares dos desfilantes. Não poderia ter outro desfecho: Campeã e um lugar para a história. O que vi no encharcado Anhembi naquela madrugada foi algo épico.

Porém, o que ficou marcado de 2002 nos Gaviões foi o samba-enredo.

O refrão é uma pancada:

É hora da virada…. Vem amor
Tenho fé e esperança….No coração
O meu país menino vai mudar
E a felicidade há de brilhar

Capitaneado pelo carnavalesco Jorge Freitas e auxiliado pelo então desconhecido Delmo de Moraes e um samba de Ernesto Teixeira, Alemão do Cavaco e José Rifai o refrão virou jingle político meses antes das eleições presidenciais de um partido coligado a Lula (salvo engano, o PC do B). A história do xadrez botava o dedo na ferida na situação do país (a esperança, a mudança, virar o jogo e dar um xeque-mate em tudo que era ruim) nunca foi tão adequado.

Veja outro trecho do Samba.

Quero meu país jogando limpo
E o povo dando um xeque na corrupção
Um xeque na impunidade
E a bateria sacudindo a multidão

O sucesso do samba off-Carnaval fez com que em 2003 o então eleito presidente Lula “desconvidasse" a Portela para uma comitiva no mundo árabe e convidasse os Gaviões da Fiel em seu lugar. Rolou uma saia justa com a Águia de Madureira, mas mostra uma situação que marca muito bem o momento e mostra como o Carnaval do "xeque-mate" foi histórico.

Outra coisa que foi muito ouvida aqui em São Paulo na época é que os Gaviões teriam sido convidados a desfilar nas Campeãs do Rio de Janeiro na Sapucaí como a Nenê foi em 1985, o que acabou não acontecendo por questões óbvias de logística nas dimensões atuais. Não sei se o boato do convite era mesmo oficial ou apenas um burburinho, mas confesso nunca mais ter ouvido boato parecido em Carnaval algum. Nem antes, nem depois.

Na dança das pedras
Tem peão lutando pra sobreviver (Contra o FMI)

Definitivamente, foi o Carnaval dos Gaviões da Fiel que me marcou pra sempre.

Até mais !

Luís Butti
Twitter: @luisbutti



VAI-VAI


Por Aloisio Villar

No início do século XX existia no bairro do Bixiga um time de futebol e grupo carnavalesco chamado Cai-Cai do qual fazia parte um grupo de choro e jogava no campo da Lusitana.

Por volta de 1928 um grupo de amigos liderados por Livinho e Benedito Sardinha ajudava a animar os jogos e festas realizadas pelo Cai-Cai, porém eram sempre vistos como penetras e arruaceiros, sendo apelidados de modo jocoso como “A turma do vae vae”. Expulsos do Cai-Cai estes criaram o “Bloco dos Esfarrapados” e paralelamente o “Cordão Carnavalesco e Esportivo Vae-Vae” que foi oficializado em 1930.

Já como “Vai-Vai” o cordão realizou seu primeiro desfile oficial em 1930. No início da década de 70 com a categoria de cordões em decadência os mesmos se transformaram em escolas de samba e em 1972 a Vai-Vai se tornou oficialmente uma escola de samba com o nome “Grêmio Recreativo Cultural e Escola de Samba Vai-Vai” estreando logo no grupo especial.

A Saracura (apelido dado por causa do rio Saracura que margeava a Bela Vista) adotou as cores branco e preto, cores invertidas do Cai-Cai para assim ironizar o cordão do qual se separou. Foi fundado em 1 de janeiro de 1930 e é hoje uma das maiores e mais tradicionais agremiações carnavalescas do Brasil com oito títulos na era dos cordões e quatorze como escola de samba sendo a maior vencedora de São Paulo.

Vai-Vai de “O segundo casamento de D.Pedro I” 1967, “Princesa Leopoldina” 1970, “Na arca de Noel quem entrou e não saiu mais” 1978, “Acredite se quiser” 1981, “Orun Aiyê – O eterno amanhecer” 1982, “Se a moda pega” 1983, “Do jeito que a gente gosta” 1986, “A volta ao mundo em 80 minutos” 1987, “Amado Jorge, a história de uma raça brasileira” 1988, “Por mares nunca dantes navegados” 1992, “Nem tudo que reluz é ouro” 1993, “A rainha, a noite tudo transforma” 1996, “Banzai! Vai-Vai” 1998, “Nostradamus” 1999, “Vai-Vai Brasil” 2000, “O caminho da luz, a paz universal” 2001, “São Vicente aqui começou o Brasil” 2006, “Vai-Vai acorda o Brasil, a saída é ter esperança” 2008.

Agora mostro para vocês o carnaval não só da Vai-Vai, mas do carnaval paulistano em geral que mais me marcou. Referência pra mim como sambista e compositor.


A MÚSICA VENCEU 2011 


Samba de Zeca do Cavaco, Ronaldinho FQ, Fábio Henrique e Afonsinho.

Como eu já disse nunca fui de acompanhar carnaval paulistano. Não por preconceito ou não gostar, mas a folia de São Paulo sempre “bateu” em horário e dia com o acesso carioca.

Apesar disso conhecia alguma coisa de Sampa como o famoso refrão da Gaviões de 1995 “Me dê a mão me abraça / Viaja comigo pro céu..” e desde que comecei a acompanhar carnaval pela internet conheci pessoas que curtiam  a folia paulistana. Cheguei a concorrer para Mocidade Alegre em 2005 chegando nas quartas de final, mas esse quadro não mudou assim mesmo.

Só que comecei a namorar paulistas e assim aos poucos me aproximar desse universo. Minha namorada paulistana mais recente era torcedora da Vai-Vai e acabei simpatizando com a agremiação.

O namoro terminou, mas a simpatia continuou e tudo isso ocorreu justo no carnaval de 2011 quando a Vai-Vai homenagearia o maestro João Carlos Martins.

O maestro é uma das pessoas mais queridas do país. Pianista talentoso e perfeccionista foi acometido por vários problemas de saúde que prejudicaram suas atuações ao piano e como maestro. Mas mesmo assim João Carlos superou seus limites continuando em cena, ensinando e provando que a música venceu como diz o título do enredo.    

Um grande enredo que já chamava a atenção por si só e teve junto à ele um samba esplendoroso. Pra mim o samba de 2011 e ao lado de Portela 2012 e Vila 2013 um dos três maiores sambas de enredo brasileiros dessa década. Uma obra linda em letra, melodia com auge no fantástico refrão “Feliz da vida / Lá vem o Bixiga / Exemplo de Comunidade / A música venceu / O dom é luz que vem de Deus / Da emoção Vai-Vai resplandeceu”.

Refrão longo, diferente e emocionante. Lindo que ganhou ainda mais força e beleza na voz de Wander Pires.

O desfile correspondeu ao samba e um emocionado João Carlos Martins regeu a Vai-Vai rumo a seu décimo quarto campeonato. Um carnaval inesquecível pra mim que a partir daí fez com que a simpatia que eu tinha pela agremiação virasse torcida e eu fosse apresentado de vez ao carnaval paulistano.

A música venceu.


Bem..Aí estão cinco de São Paulo marcantes para fechar a série “Cinco carnavais”. Foram 21 colunas, trinta e sete escolas retratadas, trinta e duas do Rio de Janeiro e cinco de São Paulo.

Desde o dia 17 de abril de 2013 com o “Portela em cinco carnavais” foram cento e seis carnavais mencionados e explicados em porque foram importantes em textos, fotos e vídeos.

Minha eterna homenagem, respeito e agradecimento a Portela, Mangueira, Império Serrano, Salgueiro, Mocidade, Beija-Flor, Imperatriz, Vila Isabel, Unidos da Tijuca, Unidos do Viradouro, Estácio de Sá, União da Ilha, Grande Rio, São Clemente, Caprichosos de Pilares, Porto da Pedra, Tradição, Império da Tijuca, Santa Cruz, Cubango, Renascer de Jacarepaguá, Inocentes de Belford Roxo, Acadêmicos da Rocinha, Paraíso do Tuiuti, União de Jacarepaguá, Unidos de Lucas, Em Cima da Hora, Unidos da Ponte, Unidos do Cabuçu, Unidos de Bangu, Acadêmicos do Dendê, Boi da Ilha, Leandro de Itaquera, Rosas de Ouro, Mocidade Alegre, Gaviões da Fiel, Vai-Vai e todas as agremiações desde a mais poderosa do especial do Rio de Janeiro ao mais humilde bloco de embalo do interior do país.

Foram quase cinco meses de trabalho, pesquisa e emoção ao relembrar grandes momentos. Encerrando hoje posso dizer.

Valeu a pena.

Semana que vem tem uma homenagem às escolas de samba em um “Sobe o som especial” encerrando de vez a série.

A todos que acompanharam, comentaram e se emocionaram muito obrigado.




E pra fechar mais uma homenagem a São Paulo.



FONTE CINCO CARNAVAIS:

GALERIA DO SAMBA www.galeriadosamba.com.br 

WIKIPEDIA  www.wikipedia.org  

SÃO PAULO EM CINCO CARNAVAIS


AGRADECIMENTOS:

PEDRO MIGÃO - OURO DE TOLO www.pedromigao.com.br 

LUIS BUTTI -  EU, RADAMÉS Y PELÉ www.euradamesypele.com.br

LEONARDO DAHI - BRASIL DECIDE  brasildecide.wordpress.com  

GABRIEL CURTY - BOLEIROS DA GERAÇÃO Y http://boleirosdageracaoy.wordpress.com/page/2/


ESCOLAS DE SAMBA EM CINCO CARNAVAIS:







ACADÊMICOS DO DENDÊ  http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/08/academicos-do-dende-em-cinco-carnavais.html

BOI DA ILHA  http://www.aloisiovillar.blogspot.com.br/2013/08/boi-da-ilha-em-cinco-carnavais.html

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