JOSÉ WILKER




No último sábado morreu o ator, escritor, diretor e crítico de cinema José Wilker. Uma notícia que chocou o país.

Nunca vi ninguém citar o Wilker como seu ator preferido. Não era o tipo de ator que tinha fã clube ou bombava em redes sociais com postagens polêmicas ou “talifãs”, muito, talvez, porque ele não precisasse aparecer, ele estava aqui.

Zé Wilker já fazia parte não só do imaginário nacional como parecia fazer parte de nossa casa como a geladeira e o fogão. José Wilker era tão presente, tão comum em nossas vidas que a gente nunca imagina que uma pessoa assim possa morrer.

E isso que choca.

Não é o tipo de artista que quando morre aparecem piadinhas do tipo “Agora que ele morreu vão baixar toda sua discografia”. Não vi uma piadinha dessas porque todo mundo lhe conhece. Também não vi críticas alegando “Agora todo mundo é fã” porque realmente todo mundo era fã. José Wilker não era o grande ídolo de ninguém e pelo jeito que ele se mostrou ao Brasil nos últimos 40 anos ele nem queria isso. Queria ser respeitado e conseguiu.

Sua morte, seu desaparecimento é como se perdêssemos alguém próximo. A casa ficou mais vazia. Parece que falta algo perto da geladeira e do fogão.

Vi a notícia da morte na tarde de sábado no facebook. Marcaram meu nome em uma postagem onde as pessoas perguntavam como eu me “despediria” dele. Explico. Quando morre uma celebridade faço uma brincadeira idiota de me despedir da pessoa botando foto errada, de outra pessoa.

Algumas pessoas acreditam e vem me corrigir, a graça está nisso. Pois bem, vi essa postagem e a gente imagina tão pouco uma morte assim que demoraram alguns segundos que eu entendesse a postagem, viesse o susto e eu me perguntasse “Zé Wilker morreu?”. Corri pro twitter, vi seu nome em primeiro nos trending topics e abrindo o  mesmo vi a confirmação.

Fiz a brincadeira como faço com todas as celebridades, mas confesso que nessa morte realmente eu fiquei chateado.

Como eu disse é impossível não gostar do José Wilker, a quem considero o Jack Nicholson brasileiro. Jeito de quem parece estar de bem com a vida. Ar debochado, sarcástico, sorriso irônico, pra quem usa alguns desses artifícios no dia a dia como eu é uma delícia.

Veio do Ceará sem a pretensão de ser um dos maiores artistas do país, queria “se divertir com sua galera” e conseguiu. Sua galera cresceu, virou a população de todo um país numa espécie de bye bye Brasil passando com sua caravana rolidai e encantando um povo tão diferente, mas que parecia que ele sabia chegar ao coração de cada um.

Seja com o mítico safado Vadinho, o dono do coração da bela Flor e da maior bilheteria do cinema nacional por mais de 30 anos, só superado pelo Capitão Nascimento.

Seja por Mundinho Falcão de Gabriela, o acusado e fugitivo comandante Mattos de “Salvador da Pátria”, o misterioso Marcelo de “A próxima vítima”, o prefeito que tinha um romance de pegar fogo literalmente em “Fera Ferida”, cativante como JK da minissérie de mesmo nome, duro como o Belarmino de “Renascer” e histórico como Tenório Cavalcante de “O homem da capa preta” .

E brilhando como o mágico de “Bye bye Brasil”. Mostrando seu talento para as novas gerações como Giovanni Improtta de “Senhora do destino”, personagem “felomenal” de tal importância que ganhou um filme só seu ou recentemente como o coronel Jesuíno que queria usar sua esposa e assim usou sua capacidade de interpretação para se despedir da cena.

Crítico de cinema, analista do Oscar, cinéfilo dono de mais de três mil filmes, pessoa culta, inteligente, mas que não era chata. Era capaz de dar uma aula de sociologia debatendo no programa “Starte” da Globonews o Brasil do fim dos anos 70 e de participar de um festival de palavrões com o Vesgo do Pânico.

Não é preciso ser baixo pra ser popular nem ser chato pra ter nível. Esse foi um de seus maiores legados.

Mas os maiores. Aqueles que fizeram pra mim José Wilker entrar para a história do Brasil tem nomes. Vadinho e Roque Santeiro.

Dois personagens que tiveram algo em comum. Voltaram da morte..Ah Zé, que sacanagem você fez com a gente. Pegue a Flor e ande passando pela gente escondido, com jeito safado, bunda de fora ao som de “O que será?” de novo. Volte que tem mulher dizendo que é viúva sua sem nunca ter sido apoiada pelos coronéis de Asa Branca.

Volte que as casas brasileiras já estão sentindo sua falta. O visor da televisão fica mais vazio sem você.

Que pena Zé. Você não me conheceu, mas sou escritor e todo escritor sonha com alguns artistas fazendo personagens seus e eu tinha um pra você que nunca fará, se despediu antes. Mas você se despede sob aplausos de seu povo. Como todo artista sonha e eu acho isso justo.


Muito justo.


Justíssimo. 


Comentários

  1. Chocante a partida tão inesperada de um artista tão presente, a maior celebridade da cidade onde moro e na qual ele nasceu. O vi de perto apenas uma vez, em 1999 pouco depois dele ter terminado de gravar "Suave Veneno" e veio à terra do Padim visitar as tias. Aliás, foi na casa onde passou a infância e que por aqui é sempre chamada da "casa das tias de Zé Wilker". Fui aluno de um primo e colega de faculdade de outro cuja semelhança física já denuncia o parentesco.
    Entre uma romaria e outra do Padre Cícero acabou por acontecer uma pra Roque Santeiro. Explico, no auge da novela (se é que esse termo caiba pra aquele grande clássico da TV brasileira que teve ibope condizente à qualidade) uma dessas tias faleceu e foi anunciada a presença de 'Roque Santeiro' no velório e enterro. Situada no centro do interior nordestina Juazeiro recebeu inusitadamente gente de toda a região e não era para o Santo canonizado pela fé dos sertanejos 'da vida real', vieram ver o filho do Beato Salú.
    Fazia pouco tempo eu tinha completado seis anos e sido alfabetizado, dezembro de 1985. Entusiasmado como toda criança que mostrava saber ler via inúmeras faixas, cartazes e pôsteres com dizeres de bem vindo à terra natal, pedidos de bênçãos, cantadas de fãs e piadas diversas típicas de carentes.
    A multidão acabou por frustrar-se, pois 'Roque' não pôde vir devido às gravações da novela. Tamanha aglomeração de pessoas na cidade sem ser romaria só viria a ser superada quando da passagem do corpo de outro nordestino que havia conquistado o Brasil, Luiz Gonzaga.
    Enfim, tal episódio no Ceará ficou conhecido como "Romaria para Roque Santeiro".

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    1. Olha só que história interessante.Deve ser um grande orgulho mesmo ser conterrâneo de um cara como ele. Zé Wilker marcou muito bem sua passagem por aqui

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  2. Corrigindo alguns termos que o teclado do tablet insiste em ter vontade própria: centro do interior nordestinO; piadas típicas de CEARENSES.

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    1. O interior nordestino é rico demais de histórias e personagens

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