MALANDRO ENFEITIÇADO




*Capítulo da coluna "Enredo do meu samba" publicado no blog Ouro de Tolo em 12/10/2013 

Era uma história muito séria. Perguntei se Andressa tinha certeza que Mariana virara escrava sexual na Espanha e ela respondeu que sim. Recebeu telefonemas de pessoas que não quiseram se identificar comentando.

Era uma super matéria pra mim, desbaratar uma quadrilha dessas e prometi que iria investigar e denunciar. Andressa me beijou agradecendo e comentou que tinha certeza que a irmã estava viva.

Dividi meu resto de semana entre acompanhar o restante do campeonato de surf, namorar Andressa e investigar o caso. Pesquisei no google procurando casos parecidos e achei. Consegui através de jornalistas amigos mais informações.

Enquanto Andressa tentava viver mesmo com esse drama da irmã. Ao contrário de Mariana nunca quis ser modelo, mas adorava viajar pelo litoral e aprendeu tudo sobre surf, conheceu pessoas e decidiu com amigos influentes organizar uma copa Sul de surf que era um sucesso. Praia lotada, muita gente competindo atrás do prêmio e eu sem entender nada ainda sobre o esporte de pranchas.

Na manhã de encerramento, antes das competições Andressa decidiu que me ensinaria a surfar. Passamos a manhã toda nas águas e eu tentando ficar deitado e em pé na prancha. Depois de um tempo consegui e vibrei.

Até que uma onda me pegou em cheio. Acho que nunca engoli tanta água na minha vida. Rolava por debaixo d`agua até que parei na beira quase morrendo implorando por ar e todo mundo rindo em volta. Inclusive Andressa.

Perguntei qual era o motivo da graça e rindo Andressa me pediu desculpas. Notei que todo mundo gargalhava e apontava pra mim e perguntei a mulher qual era o problema.

Vermelha de tanto rir Andressa me contou que eu perdera o calção na água. Sim amigos, eu estava pelado, nu com a mão no bolso. Envergonhado tampei minhas partes pudentas e decidi que ali acabaria minha história no surf.

Cobri as finais de tarde, de noite rolou uma festa da organização e de manhã levei Andressa para a rodoviária. Trocamos telefones e prometi que me dedicaria ao caso de sua irmã. Ela passou a mão em meu rosto, agradeceu e contou que seria eternamente grata.

Antes que subisse ao ônibus puxei sua mão e pedi que fosse ao Rio de Janeiro comigo. Encantara-me com ela e tinha certeza que seríamos muito felizes.

Andressa desceu, deu um beijo em minha testa e falou “Não posso, meu marido não deixa”.

Falou e subiu com o ônibus partindo.

Acenei dando adeus, virei e comecei a caminhar para ir embora quando a ficha caiu.

“Marido? Como assim???”.

Voltei para o Rio de Janeiro e em casa fui direto para o telefone. Liguei e conversei um pouco com Julinha contando que morria de saudades dela e para alguns contatos tentando mais informações sobre tráfico de mulheres.

Fiquei nem uma hora em casa. Tomei um banho, me troquei e saí para ir ao jornal. Quando entrava no carro vi o Panguá.

Lembrei que ele tinha uma história pra me contar e corri atrás do homem pedindo que me falasse. Panguá tentou se desvencilhar dizendo que tinha que fazer um trabalho no 402 e ofereci cem reais pra que me contasse logo.

Dessa forma cheguei atrasado no trabalho e Panguá no 402.

Fomos a um bar próximo. Liguei o gravador e disse “desembucha Panguá”.
E ele desembuchou.

Voltamos a Apolinério. Aquele que enganou o malandro Belezudo e fez o mesmo andar de calcinha no Acadêmicos do Dendê. Pois bem, a vida continuou depois desse caso.

Apolinério era ritmista e ritmistas saem em muitas escolas. Ele mesmo saía em todas as escolas e blocos da Ilha.

Isso incluía o Boi da Ilha do Governador. Escola com belos sambas do bairro entre eles “Orun Aye” que ganhou o prêmio Estandarte de Ouro em 2001 como melhor do acesso A, recomendo que ouçam. Mas a história não é sobre o samba e sim Apolinério.

Apolinério tocava bateria no Boi da Ilha, ainda na antiga quadra da Freguesia quando tia Zilda, uma baiana da escola se aproximou e perguntou se o homem realmente precisava de uma babá para seu filho.

Sim, era verdade. Apolinério acabou se amasiando a Margarida e eles tiveram um filho. O Apolinério Jr, grande maldade com o garoto esse nome.

Apolinério respondeu que sim, precisava e tia Zilda perguntou se podia mandar a sobrinha em sua casa no dia seguinte. O homem concordou.

O ensaio continuou, acabou tarde e Apolinério foi pra casa. Ainda dormia quando ouviu vozes na sala de casa. Era da esposa conversando com outra mulher. 

Lentamente Apolinério levantou-se e foi até a sala. Ao chegar no local encontrou Margarida dispensando a menina dizendo que queria alguém mais experiente. Apolinério viu a sobrinha de Zilda e coçou os olhos pra saber se não era uma miragem.

Era uma negra linda, novinha que deixou o homem louco. Antes que a mulher completasse a dispensa Apolinério gritou “está contratada, pode começar agora mesmo se quiser”.

A menina sorriu, Margarida nada entendeu e Apolinério completou “O menino está no berço do quarto, vai lá”. Ela foi e Margarida perguntou que história era aquela. Apolinério disse “é sobrinha da Zilda, não posso entristecer mulher tão especial pra mim”. Margarida acabou aceitando meio a contragosto.

Apolinério, assim como Belezudo, tinha lábia fácil e conseguiu rapidamente levar Stella, esse era seu nome, pra cama. Pra aguentar uma mulher daquela era preciso ter disposição, dar regalias e Apolinério, amigo do presidente Eloy Eharaldt, conseguiu encaixar Stella na ala de passistas.

E a cabrocha sambava bem mesmo, merecido.

Dava dinheiro pra ela, saía pra passear, cinema, danceteria e Margarida nem desconfiava achando que o marido trabalhava muito. Apolinério devia ter o dobro da idade de Stella e sabia que essa era a única forma de mantê-la por perto.

Ainda mais que como era deliciosa a rapaziada vivia de olho.

Uma noite Stella dormiu na casa de Apolinério. O homem levantou para beber água de madrugada e encontrou a babá chorando na cozinha. 

Perguntou o que ocorria e ela respondeu  “nada não”.

Mulheres sempre respondem isso, principalmente quando tem mesmo alguma coisa.

Apolinério se preocupou e perguntou o que ela tinha afinal, queria ajudar. Stella limpou os olhos e comentou que seu irmãozinho mais novo virara chacota no colégio por andar de tênis esfarrapado, cheio de buracos.

O homem se penalizou e ela continuou “Dá muita pena de meu irmãozinho. Ele chega chorando em casa todos os dias. Bem que eu queria dar um tênis novo pra ele, mas não tem como”. Apolinério resolveu virar super-herói protetor das crianças com tênis furado e perguntou quanto era.

Stella pediu que o patrão não se preocupasse e ele insistiu. Stella decidiu falar “duzentos reais”. Apolinério respondeu que pagaria e uma surpresa e emocionada Stella abraçou o amante agradecendo.

Completou perguntando se não tinha como colocar mais cinquenta reais pra comprar gás que acabara em casa e o homem sorriu dizendo “tudo pela minha Deusa do ébano”.

Stella deu um beijo apaixonado no amante e falou para irem ao seu quarto que teria coisas interessantes pra fazer com ele.

Era o poder da xana. Apolinério estava de quatro.

Alguns dias depois ensaiavam no Boi da Ilha quando Stella apresentou Miro, que seria seu primo. Rapaz meio afetado, gay pra dizer a verdade e que também era passista da agremiação.

Stella comentou que Margarida comentara que queria fazer um quarto a mais na casa e ela lembrou que seu primo era pedreiro. Apolinério não agüentou e perguntou “Pedreiro? Essa florzinha?” Stella se indignou e o homem pediu desculpas comentando que iria conversar com a esposa.

Conversou com Margarida e contrataram Miro. O rapaz trabalhou com vontade e presteza fazendo um quarto para Apolinério Jr e o malandro aproveitava que Margarida tinha que tomar conta da obra e saía com a babá e a criança pra passear na praça.

E dava uns amassos na babá.

Um dia Margarida comentou com o marido que sentia falta de passear e pediu que ele a levasse ao cinema. O homem ficou entre a cruz e a espada porque prometera passear com Stella. Conversou com a babá que entendeu a situação.

Dessa forma Margarida e Apolinério saíram deixando Stella tomando conta do bebê.

Assistiram ao filme, jantaram e tiveram uma noite maravilhosa. Margarida ligou para Stella comentando que dormiriam em um motel e prometendo hora extra para a moça. Mas ao chegar no local o cartão de Apolinério foi recusado e tiveram que voltar pra casa.

Enfurecida Margarida reclamava do marido quando entraram em casa e encontraram o bebê chorando sozinho na sala. Gritou por Stella que não ouviu. Acompanhada do marido Margarida foi para o quarto e abriu a porta.

Deram de cara com Stella e Miro na cama. O rapaz de gay não tinha nada.

Apolinério assustado só soltou um “Stella!!” enquanto furiosa Margarida foi pra cima do casal. Começou a bater em Miro gritando “Seu traidor!!Me traindo na minha cama!!”.

Miro correu pra rua peladão com Margarida atrás lhe batendo e chamando de safado e traidor. Na frente de toda vizinhança.

Stella também correu pra rua pra proteger Miro das pancadas de Margarida enquanto a ficha de Apolinério caía. O homem era duplamente corno.

Sentou-se sem eira nem beira, sem chão no meio fio e Belezudo parou a sua frente e ficou olhando. Apolinério olhou o homem e perguntou “O que você quer calcinha?”.

Belezudo riu. Andou alguns passos, se virou e disse.

“Agora entendi porque você foi pro Boi da Ilha”.

É Apolinério. Como eu já disse antes..

..Todo malandro tem seu dia de otário.




ENREDO DO MEU SAMBA (CAPÍTULO ANTERIOR)

SONHOS DE RAINHA

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