UÍSQUE COM GUARANÁ

 
*Capítulo do livro "Enredo do meu samba" publicado no blog "Ouro de Tolo" em 04/01/2014


Uma boa história pra desopilar o estômago. Gargalhei com o caso que Luisinho me contou e perguntei se ele tinha mais algum. O estagiário contou que não, mas caso aparecesse me contaria.

Voltei ao trabalho feliz que as coisas tivessem dado certo naquele dia. O resgate de Mariana era importante pra mim não só como jornalista, mas por Andressa que era uma mulher bacana.

Por alguns minutos esqueci de Bia e seu casamento que me fariam perder de vez minha família.  O fechamento do “casa de bamba” que pouco tempo antes não me dizia nada e agora era parte fundamental de mim. 

Mas com esse eu ainda tinha uma esperança..

Continuei trabalhando e estranhei meu pai não ter entrado em contato. Liguei para ele e nem no fixo, nem celular atendeu. Comecei a ficar preocupado e a cada quinze minutos ligava e nada.

Já não conseguia mais me concentrar no trabalho quando meu telefone tocou. Era da casa de meu pai. Atendi dando bronca no velho por seu sumiço.

Mas não era ele..

..Era um vizinho nervoso contando que meu pai não passava bem. Naquele instante quem ficou nervoso fui eu. Perguntei o que ele tinha e o vizinho respondeu que não sabia, mas lhe encontrou desmaiado e chamou uma ambulância. Naquela hora já estava sendo entubado.

Perguntei pra qual hospital seria levado e desliguei desesperado. Pedi licença ao meu chefe e saí correndo. 

Cheguei ao hospital e descobri que meu pai sofrera um AVC e o caso era sério. Fui até a porta do quarto na UTI e vi o meu pai com olhos fechados, todo entubado ligado a máquinas. Lembrei da última vez que lhe vi, dele caminhando com dor de cabeça e do aperto que senti. Uma lágrima rolou pela minha face.

Cheguei desorientado na recepção, não sabia o que fazer e só pensei em ligar para uma pessoa. Bia. Liguei para ela e contei o que ocorria.

Algum tempo depois minha ex chegou e não falamos nada, apenas nos abraçamos forte. Sentamos na recepção e Bia fez carinho na minha cabeça. 

Só depois de um tempo perguntei por Julinha e Bia respondeu que estava com Zé.

Ficamos mais um bom tempo em silêncio.

Adormeci e só acordei um tempo depois com Bia me cutucando. Perguntei o que ela ainda fazia lá e respondeu que cuidava de mim. Agradeci, mas disse que a Julinha precisava mais, não poderia deixá-la sozinha.

Ela respondeu que já iria me entregou um sanduíche e um refrigerante pedindo que eu me alimentasse, pois não comera nada. Agradeci e comecei a comer com minha ex me olhando. Bia me olhava de forma diferente. Carinhosa como há muito não ocorria.

Ela me perguntou como eu estava e respondi que bem na medida do possível. Perguntou pelo meu livro. Primeira vez que perguntou esse tempo todo.

Respondi que conseguira algumas histórias interessantes e estava perto do fim. Bia comentou que antes de ir embora queria dar uma contribuição para o livro. Perguntou se eu lembrava de um casal de vizinhos nossos Leonardo e Daniele. Respondi que sim e ela contou que soube uma história interessante deles.

É.. Até Bia contribuindo com o livro.

Como Bia contou Daniele e Leonardo eram nossos vizinhos de anos. Não éramos tão chegados, mas às vezes conversávamos e até fomos a um ensaio do Monobloco juntos uma vez.

Daniele e Leonardo se conheceram na quadra da União de Jacarepaguá. Escola da zona oeste do Rio de Janeiro de alguns belos sambas compostos por um grande amigo meu, o poeta Alexandre Valle. 

Os dois faziam parte de uma ala da comunidade da escola e acabarem fazendo amizade já que a ala era muito unida e saía para todos os lugares juntos fazendo rifas, festas, tudo em prol da ala.

Daniele fez aniversário e resolveram fazer uma festa alugando a quadra da escola pra realizar. Notou-se um clima romântico no casal e os amigos incentivavam Leonardo a chamar Daniele para dançar.

Leonardo chamou e os diretores da ala em conluio com o DJ colocaram Elis Regina para tocar. O som foi da música “dois pra lá, dois pra cá” de Aldir Blanc e João Bosco. Dançando Leonardo comentou a coincidência, pois sua bebida preferida era uísque com guaraná. Daniele perguntou do que mais o homem gostava.  

Leonardo respondeu “disso” e beijou a mulher sendo correspondido.

Foram aplaudidos por toda a ala e trocaram muito mais beijos naquela festa. Não só na festa como por vários dias assumindo namoro. Os dias viraram semanas, as semanas meses e resolveram se casar.

Leonardo pediu Daniele em casamento em um desfile da União e se casaram na quadra três meses depois. Menos de um ano após veio o primogênito e dois anos depois a menininha formando um casal.

Tinham uma vida boa. Empregos bacanas o que rendia estabilidade.

Gostavam de viajar, praticar esportes e principalmente de samba. 

Amavam-se, se davam muito bem e eram companheiros, o mais importante.

Mas o tempo foi passando, chegaram aos sete anos de casados e mesmo mantendo o amor e carinho mútuo a monotonia chegou. Tentaram de tudo. Viajaram novamente, compraram carro novo, planejaram se mudar, mas nada parecia reacender o fogo do casal.

Tentaram também outras coisas na cama, novos jogos eróticos, brinquedos, mas realmente a chama não era a mesma. Eram completamente apaixonados um pelo outro então não era caso de separação. Mas algo teriam que fazer.

Um dia Daniele assistia tv enquanto Leonardo mexia no notebook.  A pasmaceira dos últimos tempos quando Daniele irritada falou que deviam dar um basta naquela situação. Leonardo concordou e chamou a esposa para olhar seu computador. 
   
Daniele olhou e espantada perguntou o que significava aquilo, um
monte de pessoas nuas com o rosto coberto. Com a maior tranquilidade do mundo respondeu que era um clube de swing.

Daniele perguntou “Você não está pensando em..” Leonardo nem deixou a mulher completar a pergunta e respondeu “Estou sim,vamos por curiosidade, se não der vontade de nada só olhamos”.

Daniele pensou por alguns dias e acabou topando. Em um sábado a noite deixaram as crianças na casa da mãe de Daniele e se encaminharam para o clube de swing.

Entraram e viram aquelas pessoas lá batendo papo, bebendo, com DJ tocando uma música como em qualquer boate normal. Leonardo foi ao balcão e pediu dois uísques com guaraná.

Sentaram e ficaram observando os outros casais. Logo um casal se aproximou e começaram a bater papo. Papo vai, papo vem, uísques com guaraná sendo consumidos e quando foram ver já estavam com o casal em um quarto praticando swing.

No dia seguinte em casa Daniele já estava na mesa tomando café quando Leonardo sentou e se serviu. Ficaram algum tempo em um silêncio constrangedor quando Daniele perguntou se ficariam daquela forma.

Leonardo respondeu que não, até porque tinha uma coisa pra confessar, gostara da noite anterior. 

Daniele sorriu e respondeu que também tinha algo pra confessar, também gostara. Os dois riram e Leonardo falou pra esposa que poderiam voltar ao local se ela quisesse. Daniele concordou, mas com uma condição. Que eles nunca traíssem, sempre estivessem juntos na hora do sexo com outras pessoas.

Leonardo concordou e assim selaram um pacto.

A vida do casal melhorou sensivelmente. Quase todos os finais de semana estavam no club experimentando o swing com diversos casais diferentes. 

Viraram praticantes tão profissionais que já arrumavam casais para a troca sem precisar ir ao club. Colocaram anúncios em jornais, sites e até casais amigos convidaram.

Tudo ia bem até que faltando pouco tempo para o carnaval conheceram um casal na escola de samba. Moreira e Adriana. Leonardo se interessou por Adriana, Daniele por Moreira e resolveram “atacar”.

Conversaram com o casal e chamaram para ir a um barzinho depois do ensaio. O casal topou e lá foi o quarteto. No bar depois de alguns uísques com guaraná Leonardo abriu o jogo e convidou o casal para ir a um motel.

Os dois ficaram meio sem reação até que Adriana se antecipou e resolveu topar. Moreira olhou espantado para a esposa que disse “Vamos ser sinceros Moreira, você estava comendo a Daniele com os olhos”.

E dessa forma foram para o motel.

Só que dessa vez alguma coisa saiu errado porque Daniele se encantou por Moreira. O homem já era um quarentão, mas totalmente “geração saúde” praticante de esportes e com corpo musculoso. 

No começo Daniele apenas passava o dia pensando no homem, que queria de novo seu corpo e com o tempo arrumou coragem e lhe procurou. 

Trocaram sms, depois telefonemas até que foram para um motel. Só os dois com Daniele violando a regra que combinara com o marido.

Daniele se apaixonou completamente por Moreira e não eram poucas as escapulidas que dava com o homem.  

Queria se livrar de Leonardo, mas não queria se separar e perder metade dos bens. Lembrou que Leonardo tinha um plano de saúde milionário e poderia resolver o problema. Moreira, que estava deitado na cama, deu um pulo e perguntou se a mulher enlouquecera.

Daniele respondeu que sim, estava louca por ele e iria executar o plano.

De noite Leonardo chegou em casa e Daniele já lhe esperava com um vestido sensual e Eis Regina no som ambiente. Beijou o marido e falou que estava com saudades. Leonardo se surpreendeu e perguntou o que a mulher aprontara para a noite. A esposa respondeu que o marido iria ver e o que era melhor. Seriam só os dois.

Mandou que o marido sentasse no sofá enquanto preparou dois copos de uísque com guaraná e em um deles botou um pó suspeito. Levou um para o marido e colocou o outro na mesinha em frente ao sofá. Pediu que o marido bebesse quando um telefone tocou no quarto. Leonardo disse que era o celular da esposa e ela foi até o local atender.

Voltou alguns segundos depois dizendo que foi de número restrito e caiu quando atendeu. Pediu que o marido bebesse e naquele momento Leonardo levantou e propôs um brinde.

Daniele pegou seu copo na mesinha e perguntou a o que eles brindavam. Leonardo falou “Ao nosso amor!!”.Daniele levantou seu copo dizendo “Ao nosso amor!!” e os dois beberam.

Algum tempo depois Daniele começou a se sentir zonza, passar mal e falou “Você trocou os copos, mandou que alguém telefonasse quando chegasse e trocou os copos!!”.   

Sem falar nada Leonardo viu Daniele se ajoelhar no chão e falar “te amo seu canalha” antes de cair morta.

Leonardo pegou o celular, ligou e disse “Tudo resolvido Adriana” e sentou-se para beber o resto do uísque ouvindo Elis Regina cantar “Sentindo o frio em minha alma te convidei pra dançar, a tua voz me acalmava”.



São dois pra lá, dois pra cá.


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O PRÉDIO

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