DINASTIA: CAPÍTULO VI - SÃO PAULO




Benedito encontrou o corpo de Dino algumas horas depois e foi atrás de Manolo. Foi atrás da confirmação que Salvatore era o autor do crime. Manolo desconversou, mas Benedito contou que já existia um rumor que Dino atacara Lorena.

Manolo confirmou a história e Benedito perguntou se o homem tinha noção que Bertoldo mandaria caçar o italiano quando soubesse do crime.

Manolo respondeu que sim, mas nada adiantaria que Salvatore já estaria longe. Benedito acendeu um cigarro de palha e disse que esperava que sim, gostava do italiano, mas teria que cumprir seu dever.

Virou-se para sair e antes de partir virou para o espanhol e disse “aquele sujeito já foi tarde pra casa do cão”.

Como já era de se esperar Bertoldo furioso com o crime mandou seus jagunços fuçarem a cidade atrás de Salvatore e Lorena. Bertoldo chamou os pais de Lorena até a sala e ordenou que contassem onde estava a filha deles. Os velhos não sabiam de nada e injuriado o fazendeiro mandou que arrumassem suas coisas e fossem embora.

Manolo protegeu os pais de Lorena e usando seus conhecimentos arranjou abrigo para o casal em uma fazenda vizinha.

Enquanto Benedito e os jagunços reviravam Ribeirão Preto atrás de Salvatore e Lorena eles já estavam no trem rumo a São Paulo.

Salvatore olhava a paisagem, a mesma que lhe fascinou indo para Ribeirão Preto e Lorena com olhar triste e a cabeça encostada no ombro do amado dizia estar com medo. Salvatore beijou a cabeça da esposa e comentou que ela não precisava ter medo, pois, estaria sempre com ela.

Lorena perguntou o que aconteceria com seus pais e o italiano mandou que não se preocupasse que Manolo cuidaria deles. A moça deixou cair algumas lágrimas do rosto perguntando se algum dia veria sua família de novo.

Salvatore ficou um tempo em silêncio, abraçou a esposa e disse que suas famílias agora eram um ao outro.

Chegaram a São Paulo. Salvatore tinha algum dinheiro, juntado no trabalho na lavoura e dado por Manolo e com esse dinheiro procuraram uma pensão.

Receberam indicações e baterem na porta de uma casa velha na região do Brás. Uma senhora negra atendeu e Salvatore perguntou se dona Luzia estava. Ela respondeu “sou eu”.

Salvatore espantou-se e exclamou “Mas a senhora é negra!!”. Luzia riu e devolveu “E você italiano, qual o problema?. Salvatore riu e disse que precisava de um quarto, ela pediu que entrassem e contou que agora falavam a mesma língua.

Eles entraram e ficaram por lá mesmo. Era uma casa simples, mas muito acolhedora. Pegaram um quarto com cama de casal, uma escrivaninha, banheiro no corredor que dividiam com mais cinco famílias e dessa forma recomeçaram.

Salvatore arrumou emprego na indústria e Lorena ajudava dona Luiza nos afazeres da pensão. Tudo corria bem.     

Algum tempo depois Salvatore já ganhava bem e faziam planos de comprar uma casa pelo bairro. Fizeram amizade com um casal, Olga e Mathias, este último trabalhava com Salvatore e Olga era enfermeira. Numa saída com eles para assistir uma peça de teatro Lorena passou mal.

Os quatro correram para o hospital que Olga trabalhava e enquanto essa entrava na emergência com Lorena Salvatore esperou na recepção com Mathias. O italiano muito tenso andava para um lado e outro dizendo que não podia ficar sem a esposa e Mathias mandava o amigo se acalmar.

Depois de um tempo Olga saiu e Salvatore desesperado correu até a mulher perguntando como estava sua esposa.

Olga ficou um tempo séria e respondeu que estava tudo bem. Salvatore respondeu “Graças a Deus” e Olga emendou “Com o bebê também”.

Salvatore virou-se para a mulher e respondeu que não entendera. Olga sorriu e confirmou a informação “Com o bebê também, Lorena está grávida”. Salvatore ficou um tempo olhando a mulher e depois começou a pular como criança e abraçar Olga e Mathias dizendo que teria “um bambino”.

Olga rindo mandou que o homem parasse de pular e fosse ver sua esposa.  Salvatore deu um beijo em sua testa e entrou correndo para ver sua amada.

Viu Lorena deitada na cama e perguntou se a esposa estava bem. 
Lorena sorriu e respondeu que apenas estava enjoada. Salvatore sentou a seu lado na cama e lhe deu um beijo na testa dizendo “teremos um bambino”. Lorena sorriu e confirmou “o nosso bambino”.

Salvatore deu um beijo na testa da amada e deitou sobre a cama lhe abraçando e agradecendo.

Lorena foi pra casa e Salvatore intensificou seu trabalho. Além de trabalhar na indústria ainda arrumou bico de garçom numa taverna só para aumentar o dinheiro e comprar uma casa quando seu filho nascesse.

Cuidou de Lorena com muito mimo enquanto a moça fazia com crochê o enxoval da criança. Salvatore tinha certeza que viria um menino, Lorena uma menina e pra não haver discussão a moça fazia enxoval para ambos os sexos.

Salvatore parecia finalmente de bem com a vida. Desistira de procurar a família, alguns anos já haviam se passado e enterrou fantasmas que lhe atormentavam como Morgana, sua irmã e Dino. Era feliz com Lorena e ao lado da esposa fazia acontecer seu sonho de vencer no Brasil.

Sentia sim saudade da família, Dora, da Itália, Manolo, mas o futuro já lhe mostrava que o passado poderia ficar apenas no passado.

Uma noite trabalhava na taverna quando Mathias entrou esbaforido. O italiano que servia uma mesa perguntou qual era o problema e Mathias respondeu que era sua esposa em trabalho de parto.

Salvatore respondeu que era impossível, pois, a esposa estava apenas de sete meses e Mathias puxou o amigo mandando que se apressasse que era sério. Correram para o hospital.

Chegando lá encontraram Olga. O italiano desesperado agarrou a mulher perguntando o que ocorria. Mathias mandava o amigo se acalmar e o italiano respondia que não queria se acalmar, apenas saber como estavam sua esposa e seu filho.

Olga respondeu que o menino nascera prematuro e não resistira. O chão de Salvatore sumiu. O homem sentou em uma cadeira desorientado sendo amparado por Mathias e depois de algum tempo levantou a cabeça e perguntou por Lorena.

Olga respondeu que a moça perdera muito sangue e não estava bem. O italiano pediu para ver a esposa e Olga levou até ela.

Entraram no quarto e encontraram Lorena muito abatida. Olga deixou os dois a sós e Salvatore sentou na cadeira apertando a mão da amada.

Lorena pediu desculpas ao marido e Salvatore respondeu que ela não precisava se desculpar, lhe amava. Ficaram um tempo em silêncio e o italiano respondeu que era um menino, um bambino.

Lorena com lágrimas nos olhos contou ao marido que estava morrendo e mais uma vez pediu desculpas. Salvatore acariciou o rosto da amada, beijou várias vezes e respondeu que não, ela estava enganada, sairia dali sã e salva e teriam muitos filhos ainda.

Lorena chorando respondeu que não e pediu que o marido fizesse uma promessa. Salvatore também com lágrimas nos olhos perguntou qual e ela pediu que ele prometesse que seria feliz.    

Salvatore respondeu que sim, seria com ela e Lorena pediu mais uma vez que ele prometesse mesmo se fosse pra ser feliz sozinho e construísse uma nova família. O italiano se recusou a prometer e Lorena implorou “pelo amor de Deus, prometa!!”.

Salvatore chorando prometeu e Lorena aliviada respondeu que já podia partir. A mulher fechou os olhos, Salvatore percebeu o que ocorria e gritou por seu nome e que não partisse.

Olga e o médico entraram naquele instante e pediram que Salvatore saísse. Com muita insistência o homem saiu com o médico ainda tentando ressuscitar Lorena e na sala Mathias o consolava e mandava se acalmar.

Depois de um tempo Olga saiu do quarto. Salvatore apenas a olhou de forma triste, desencantada e a mulher lhe abraçou dizendo “sinto muito”.

O italiano enlouqueceu, desvencilhou-se de Olga e saiu correndo. Mathias ainda tentou alcançá-lo, mas em vão.

Salvatore andou pela cidade sem orientação, seu corpo estava lá, mas a alma não. De repente uma chuva torrencial caiu em São Paulo misturando-se com as lágrimas do italiano. Ele mais uma vez perdera tudo. Perdeu a família, a esposa, o filho, a pátria.

Em certo momento, debaixo daquela chuva torrencial Salvatore olhou para o céu e gritou com os braços abertos perguntando porque Deus não gostava dele.

Salvatore não percebeu um bonde vinha a seu encontro e apenas quando o bonde estava em cima ele pulou para não ser atropelado e caiu no chão, batendo com a cabeça e ficando desacordado.

Ao acordar o italiano notou uma multidão a sua volta olhando e se perguntando se estava morto. O condutor do bonde perguntou se ele estava bem e Salvatore respondeu “não, mas estou bem”. O condutor respondeu ao público que estava tudo bem com ele e que voltassem ao bonde.

Ficando sozinho sentado naquela calçada molhada, debaixo de chuva Salvatore sentiu dor, mas não dor por causa da queda, mas dor no coração, na alma. Naquele instante que se sentia sozinho no mundo ouviu uma voz chamando seu nome. Salvatore.

O italiano se virou e viu uma moça chorando. Olhou bem, tentando reconhecer e ela falou de novo “Salvatore, meu irmão”. Salvatore então reconheceu quem era, seus olhos brilharam e ele exclamou “Rita!!”. Era sua irmã.

Salvatore abraçou sua irmã e eles ficaram lá abraçados por um bom tempo, sem dizer nada, apenas com a chuva assistindo aquela cena.

Salvatore, naquele momento, entendeu que Deus lhe amava.


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