O DIA EM QUE O FUTEBOL MORREU


O dia 3 de fevereiro de 1959 é marcado por uma tragédia.

Após um show em Clear Lake, Iowa, EUA os cantores Buddy Holly, Ritchie Valens (Conhecido pelo mega sucesso La Bamba) e J. "The Big Bopper" Richardson morreram em um desastre aéreo. O evento marcou toda uma geração, ceifava as vidas de três jovens expoentes do rock e devido toda a dramaticidade do fato a data ficou conhecida como"O dia em que a música morreu".

Evidente que a música nem o rock morreram nessa data. Existem até hoje cada vez mais fazendo surgirem talentos e públicos sempre se renovando.  

O leitor é inteligente e sabe porque contei essa história. Evidente que o futebol não morreu ontem. Continuaremos nos emocionando, celebrando, xingando, zoando, vivendo e respirando futebol provavelmente até o fim de nossas vidas, mas nunca esqueceremos o dia de ontem. O tempo vai passar, a dor vai diminuir, a ferida cicatrizar, a vida vai continuar, mas dentro de nossas corações vai ter uma pequena dor. Uma pequena dor que pode dar suas pontadas de vez em quando e nos lembrar que nunca mais será como já foi um dia. Assim como a F1 não é pra quem é da minha faixa etária.

A Chapecoense nunca mais será um clube comum para nós, nunca mais será "apenas mais um dos pequenos". Ela pode até fazer como outros clubes emergentes que surgiram, fizeram sucesso e caíram, mas mesmo que isso ocorra não lhe esqueceremos e sempre pensaremos no que ela poderia ter sido. A Chapecoense queria conquistar a América. Acabou conquistando o mundo.

29 de novembro de 2016. O dia em que o futebol morreu. Pelo menos da forma que nós conhecemos.

Desastres com grande número de vítimas sempre nos sensibiliza, só lembrar a boate Kiss. Desastre que envolve o futebol, a nossa maior paixão e onde só estamos acostumados a ter alegrias ou dores que consideramos menores como perda de campeonato dói mais ainda. O que falar então quando envolve um clube, um grupo de jogadores que com simpatia, talento e garra conquistaram todo o país?

Envolve esporte como a morte de Ayrton Senna, envolve avião com jovens esperançosos no auge como foi com os Mamonas, envolve avião e enorme quantidade de pessoas como o fokker 100 da TAM, envolve o nosso despertar tomando um soco no estômago antes mesmo de dar uma golada no café da manhã como com a boate Kiss. Todas as nossas tragédias jogadas em um liquidificador macabro e nos fazendo sofrer. Sim, estamos sofrendo, estamos chorando a cada charge, vídeo ou mesmo citação porque são nossos rapazes que estavam lá, nossos meninos queridos que só queriam mostrar que eram grandes. Chorando nossos parceiros de tv que todos os dias entravam em nossos lares com microfones para contar histórias esportivas. É a dor de perder um desconhecido íntimo, o melhor amigo que nunca nos foi apresentado. Como perder 71 amigos assim de uma vez só? Como sobreviver a isso?

Temos e vamos sobreviver.Vamos respirar fundo, enxugar as lágrimas que teimam em cair de forma avassaladora e com as pernas trêmulas caminhar. Até porque tem um órfão que precisa da gente, um curumim, um jovem indiozinho de apenas 43 anos que precisa de nossa força, de nossas mãos para continuar vivendo. O futebol que nos deu tanto agora precisa da gente.

Precisa de cada clube de futebol desse país,clubes que estão deixando rivalidades de lado e se unindo para ajudar a Chapecoense. Clubes que nunca se unem para nada tendo que se unir na dor. Torcidas das mais variadas cores e até nacionalidades deixando um espaço em seus corações para a "Chape" seja comprando camisas, virando sócios torcedores ou mesmo orando.

Curioso isso. Vivemos tempo de tanto ódio, tanta intolerância tendo o futebol como um expoente desse ódio cada vez maior e precisamos de uma tragédia tão grande para entendermos duas coisas; Que é só futebol e que esse só é coisa pra cacete.

Tentando ver por um lado bom talvez com o tempo a gente perceba que o dia 29 de novembro de 2016 não foi o dia em que o futebol morreu, mas o dia em que o futebol renasceu. Em um dia tão triste fica a dor da tristeza, mas o cheirinho da esperança. Quem sabe não era esse o famoso cheirinho?  


Obrigado querida Chapecoense por nos lembrar porque amamos futebol, você não está sozinha.



A partir de agora somos todos da sua tribo índio Condá.

Campeões invictos da nossa emoção.



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