AMAR DE NOVO: CAPÍTULO VI - AMORES VEM E VÃO


A ONG ficou bem destruída e eu ajudei na reconstrução através de recursos e parcerias que estabeleci.

Meu filho botou a "mão no batente'. Continuou cumprindo sua pena, mas agora ajudando na reconstrução da mesma. Chegava cedo todos o dias e metia a mão na passa. Retirava o lixo, passava cimento, colocava tijolos. Mas não era mais pela pena e sim por gostar do local que conheceu.

Mas com a destruição da ONG ocorreu a separação. Thais continuava trabalhando, mas agora em um colégio na Lagoa. Meu filho mesmo com a distância não desistiria da menina.

Descobriu onde ela trabalhava e resolveu "aprontar". Pediu ajuda a Ericka e colocou o plano em prática.

Foi até a frente do colégio onde a jovem trabalhava e discretamente furou um dos pneus do carro.

Thais saiu do trabalho e pôs a mão na cabeça em desespero ao ver o pneu furado. “Patricinha” como era, mesmo assim tentou trocar o pneu. Pensou "Não deve ser difícil". abriu o porta malas, pegou o macaco, reclamando do peso pegou o pneu e levou até perto do pneu furado. Olhou e disse "Só botar o macaco embaixo, desparafusar, tirar esse e botar o outro, moleza".

Enquanto pensava o pneu desceu a ladeira onde Thais se encontrava. A moça correu desesperada atrás até que alcançou no fim da rua. Cansada sentou segurando o pneu, olhou para cima vendo que a ladeira não seria fácil para subir e se lamentou.

Nessa hora surgiu o "super herói". Gabriel.

Meu filho estava "de carona" no carro dirigido por Ericka e perguntou se estava tudo bem. Antes que Thais respondesse Ericka disse "Claro que não. Não viu que roubaram o carro dela e só restou o pneu?".

Gabriel respondeu que aquilo era muito sério e precisavam ir a polícia dar queixa do roubo. Thais, injuriada, cortou dizendo que era nada daquilo. O carro estava inteiro em cima da ladeira. Gabriel perguntou "Por quê o pneu ta aqui e o restante do carro lá? Eles brigaram?".

Irritada, Thais se despediu e começou a subir com o pneu. Carregava com dificuldades quando Ericka se aproximou e ofereceu carona até o carro. Thais recusou e Ericka insistiu mandando que ela parasse de bobeira e que não teria forças para subir com o pneu.

Ela aceitou, mas com uma condição. Que Gabriel saísse do carro. Ele riu, mas Ericka respondeu "Ok, Gabriel fora do carro".

Ele nada entendeu quando a tia completou "Vai Gabriel, vaza". O meu filho desceu e foi obrigado a subir andando enquanto elas foram de carro.

O calor estava grande e Gabriel chegou extenuado na frente do colégio. Suava enquanto Thais ria e perguntava se ele estava com calor. No local Gabriel e Ericka fingiram surpresa ao ver o pneu furado e Ericka ofereceu a ajuda do sobrinho para trocar. Thais recusou e disse que poderia fazer sozinha.

Gabriel comprou uma água com um vendedor próximo, encostou no carro da tia e respondeu "Beleza". Thais perguntou "Beleza?" e meu filho respondeu "Sim, boa sorte aí, vou assistir".

Thais respirou fundo e começou a tentar. Ericka pediu desculpas e disse que não poderia ajudar porque acabara de fazer as unhas e não sabia trocar. Thais toda enrolada tentava e não conseguia. Tentava desparafusar o pneu e nada. Subia em cima do macaco para alavancar e também nada. Ericka e Gabriel apenas assistiam em silêncio.

Depois de um tempo tentando a roda ameaçou descer de novo, mas Gabriel impediu e segurou. Thais suando, extenuada, apenas olhou quando meu filho disse "Dá licença".

Afastou a moça e começou a trocar o pneu.

Enquanto iniciava Ericka comentou "Vamos Thais, vamos à lanchonete lá embaixo tomar um suco que você está precisando".

Gabriel parou e perguntou "E eu?". Ericka respondeu "Você fica aí trocando o pneu". Thais sorriu e completou "Já gostei de você”. As duas entraram no carro de Ericka e desceram deixando Gabriel suando e trocando o pneu.

Thais e Ericka entraram na lanchonete, sentaram e pediram sucos. Thais, curiosa, perguntou qual era a relação deles e Ericka enquanto experimentava seu suco respondeu "sou tia dele".

Thais sorriu e achou curioso que tivessem a mesma idade na fisionomia e fosse tia. Ericka respondeu que sua irmã morreu antes dela nascer. Thais olhou para baixo e comentou "Que triste. Ele nunca comentou que tinha perdido a mãe".

Ericka bebeu mais um gole e perguntou "Você ta afim dele né?". Nervosa, Thais desmentiu na hora e respondeu que era noiva.

Ericka continuou "O fato de ser noiva não quer dizer que não esteja a fim e posso te garantir. Ele tem pegada".

Thais ainda tentava entender como ela sabia quando a outra respondeu "Tivemos um caso". Antes que Thais pudesse falar algo Gabriel chegou "morto” na lanchonete dizendo que o pneu estava trocado.

Assim que ele sentou Ericka levantou e disse que estava na hora de irem. Thais ria enquanto Gabriel reclamava que queria ao menos descansar e tomar um suco. As duas mulheres trocaram beijinhos, telefones e assim começava uma amizade enquanto Gabriel, injuriado, acompanhava a tia para ir embora.

Gabriel entrou no carro reclamando da tia. Reclamou que estava sujo, suado, fedendo e furou o pneu a toa. Ericka riu, respondeu que tudo tinha o seu tempo e finalizou "Ela gosta de você".

Gabriel quis saber detalhes, se Thais contara algo e ligando o carro a tia respondeu "Não precisa, mulher sabe”.

Dessa forma partiram com meu filho cheio de esperança.

Eu prosseguia minha vida. Em mais um sonho vi Camila. Mas dessa vez não foi no Arpoador, foi em um campo aberto.

Estávamos um ao lado do outro olhando crianças brincando e Camila comentou sobre quando Gabriel tinha aquele tamanho e nós dois víamos brincar. Respondi que ele sempre fora o mais bonito e mais esperto, desde garoto. Camila virou para mim e disse "Virou um grande homem graças a você".

Começamos a andar e comentei que ele estava apaixonado. Camila respondeu que sabia e completou "Não só ele".

Parei, olhei para ela e perguntei quem mais. Camila me deu um beijo no rosto, começou a andar sozinha, se virou e me disse "Olhe por nossos amigos".

Perguntei o que ela queria dizer com aquilo, mas antes de qualquer coisa acordei.

Fui para o trabalho e enquanto estava na correria vi Nando preocupado. Meu amigo estava mais quieto que o normal, disperso e perguntei a pessoas próximas o que ele tinha. Responderam que já estava assim há dias.

Ele estava estranho e eu trabalhava tanto que não percebi. Por isso Camila falou "Olhe por seus amigos".

Tomei coragem e fui ao ponto. Chamei Nando em um canto e disse que queria conversar.

Saímos juntos após o expediente e meu amigo, preocupado, perguntou se fizera algo errado. Respondi que não, mas estava preocupado com ele, perguntei o que ele tinha.

Nando olhou para o chão, respirou fundo e contou. Achava que Bia estava lhe traindo.

Respondi que era impossível, Bia nunca faria isso e ele contou "Ela está estranha e tenho notado coisas. Não to enganado Toninho. Da pra ver nos olhos dela que ela não me ama mais".

Tentava tirar os pensamentos de sua mente, mas ele continuou "Ela tinha perdido o brilho nos olhos, o brilho que as pessoas que amam tem e recuperou. Não é para mim esse brilho".

Lembrei de minha conversa com Bia e não tive muito mais o que falar.

Mas precisava falar com ela.

Chamei minha amiga para uma conversa séria. Bia perguntou qual era o problema e eu devolvi a pergunta. Ela se fez de desentendida, que não sabia do que eu falava e retruquei "Você sabe sim Bia".

Minha amiga andou pela sala onde estávamos,voltou e disse "estou tendo um caso". Passei a mão no rosto enquanto ela se aproximou e pediu que não lhe julgasse. Perguntei quem era, se era conhecido e ela contou toda a história.

O nome dele era Ruben, ele era um empresário argentino que tinha negócios no Rio de Janeiro. Vinha pelo menos uma vez por semana na cidade, tinha negócios, parceria com nossa fundação e desse encontro acabou nascendo a paixão. Amor como ela preferiu dizer.

Comentei que ela tinha que pensar bem, tinha uma família, um casamento sólido. Bia olhou para mim e disse "Sua história de amor começou de uma fuga de altar". Não tive argumentos.

Ficamos algum tempo em silêncio e perguntei o que ela faria. Bia me olhou nos olhos novamente e respondeu "A única coisa que posso fazer".

Na noite seguinte comia pizza com Guga vendo futebol quando a campainha tocou. Levantei, abri a porta e dei de cara com Bia chorando e uma mala. Minha amiga apenas me abraçou. Abracei forte imaginando o que ocorrera.

Guga e eu sentamos com Bia que nos contou que disse a verdade toda a Nando, o homem reagiu muito mal, ficou transtornado e não queria aceitar a situação. Guga perguntou o que estava ocorrendo enquanto eu falava que por pior que fosse era o único caminho que podia ser seguido.

Guga perguntava o que nós escondíamos enquanto eu abraçava minha amiga e tentava acalmar seu choro.

Bia dormiu em nosso apartamento e no dia seguinte Guga e eu comíamos pizza requentada da noite anterior conversando sobre a situação. Eu pensava em Nando e na barra que ele devia estar passando enquanto Guga comia e respondia "Imagino, perder mulher nunca é fácil. Imagino como você ficou quando perdeu a Amanda pra mim".

Mais uma vez respondi que não perdera Amanda, que eu tinha terminado o namoro com ela quando a campainha tocou. Guga atendeu e era Jessé perguntando se a mãe estava.

Antes que eu respondesse minha amiga apareceu e cumprimentou o filho. Falei que eu e Guga sairíamos, que eles deviam ter muito a conversar quando Jessé respondeu que ninguém precisava sair e que o que ele queria era muito simples. Que a mãe voltasse pra casa.

Bia perguntou por quê e Jessé respondeu "Porque seu lugar é lá, somos uma família". Bia retrucou "Que somos uma família concordo e sempre seremos. Para sempre serei sua mãe e para sempre vou amar seu pai, só que agora de uma forma diferente".

Jessé não queria aceitar. Insistentemente pedia que a mãe voltasse, que o pai estava sofrendo e Bia respondia que não. Jessé então, com raiva, perguntou "Vai deixar meu pai por causa de um argentino?".

Bia perguntou se era esse o problema, ele ser um argentino e que se fosse brasileiro não teria problemas. Jessé, cada vez mais irritado gritava que não era justo com eu pai. Bia respondeu "A vida não é
justa filho e só vivemos uma vez. Não podemos perder nenhuma oportunidade de felicidade".

Jessé gritou que a mãe se arrependeria se algo ocorresse com o pai e foi embora. Gabriel, que já aparecera na sala, falou pra tia ficar tranquila que iria atrás de Jessé e foi. Bia não aguentou e sentou chorando sendo consolada por mim e Guga.

Gabriel foi atrás de Jessé, tentou conversar com o amigo, mas a situação não estava fácil. A separação era em definitivo. Nando ficou muito mal, parecia um "zumbi" no trabalho, até começar a faltar o mesmo e exagerar na bebida. Bia prosseguia. Ficou só mais uns dias em nosso apartamento, alugou um apart e oficializou o namoro com Ruben quando o mesmo chegou no Brasil.

Jessé não aceitava e parou de falar com a mãe. O garoto tomou partido do pai morando com ele e se jogou de cabeça nos estudos da escola naval.

Amores vem e vão. Acabou o amor entre Bia e Nando, começou entre Bia e Ruben e Gabriel tentava engatar com Thais.

Ericka e Thais  realmente ficaram amigas do tipo de saírem juntas. Thais se juntou a turma que incluía Francisco, Jessé e meu filho Gabriel. O problema que junto com ela veio Ronaldo.

Ronaldo era um centroavante trombador e voluntarioso da Portuguesa da Ilha do Governador, time pequeno do futebol carioca. Mas isso não era problema para ele, não vivia de futebol. Ronaldo vinha de família rica e jogava bola por prazer.

Ronaldo não entrou nessa história por ser jogador de futebol. Entrou por ser noivo de Thais.

Thais levou Ronaldo em um jantarzinho que Ericka fez no apartamento em que morava. Estavam todos lá e Gabriel logo fechou a cara ao ver o casal. Todos jantaram, beberam, jogavam conversa fora e Gabriel não conseguia tirar os olhos de Thais que às vezes olhava de volta.

Em determinado momento Thais foi sozinha na sacada do apartamento e Gabriel se aproximou. Ele encostou-se à sacada ao lado dela e disse "Você devia parar de olhar pra mim. Seu noivo vai desconfiar". Thais riu e respondeu que ele era muito pretensioso. Gabriel continuou "Já que é para escancarar devíamos então reunir todos e dizer que estamos apaixonados. Assumir nossa relação".

Thais gargalhou dizendo que ele era louco, sentia nada por Gabriel que sorrindo retrucou "Sente sim e você sabe disso".

Naquele instante Ronaldo e Ericka se aproximaram chamando os dois para jogo de mímica. Ronaldo e Thais entraram na frente. Atrás Ericka segurou Gabriel e disse “Calma, você ta dando muita bandeira". Gabriel, com seu sorriso de sempre respondeu "Quero dar todas as bandeiras do mundo".

Fizeram o jogo de mímica. Thais em dupla com Ronaldo, Ericka com Gabriel e meu filho não conseguia tirar os olhos dela.

Gabriel dava um jeito de sempre estar por perto de Thais. Sempre existia uma "coincidência" que aproximava os dois. Thais mostrava irritação com essa aproximação toda de meu filho, mas no fundo ela gostava. Pelo menos Gabriel tinha certeza disso.

Uma noite Gabriel esbarrou com Thais na rua e a moça reclamou. Mandou que ele parasse de seguir e lhe importunar. Meu filho respondeu que não fazia isso e ela ameaçou dizendo que se ele continuasse iria dar queixa e para a situação penal de meu filho isso não seria nada bom.

Gabriel se irritou e disse que ela era muito chata dando tchau. Thais respondeu o tchau e ele se virou para ir embora. Thais tirou a chave do carro para abrir a porta e ir embora quando sentiu algo frio na cabeça. Era uma arma.

Thais gelou. O homem disse em seu ouvido "Abra calmamente a porta e vá para o banco do carona, nós vamos dar uma volta". Thais se desesperou, tentava abrir a porta, não conseguia e irritou o bandido que disse que se ela não abrisse iria matá-la.

O bandido falou e tomou um soco por traz que lhe atingiu parte da orelha e do rosto e caiu. Era Gabriel. O homem caiu, a arma caiu para outro lado e Gabriel começou a chutá-lo no chão. O bandido levantou e os dois começaram a brigar, trocar socos até que Thais pegou a arma e mandou que parassem.

Gabriel pediu que ela se acalmasse e não fizesse nenhuma besteira. Na distração o ladrão correu. Gabriel fez menção de correr atrás, mas Thais, muito nervosa, jogou a arma no chão e pediu para que Gabriel não lhe deixasse sozinha.

Gabriel se aproximou da moça que chorando muito lhe abraçou e desmaiou. Gabriel ficou sem saber o que fazer. Depois de um tempo com Thais em seus braços lhe colocou no banco de carona, respirou fundo, pegou a chave e ligou o carro indo para um hospital.

Chegando lá Thais acordou e foi conduzida até a emergência. Foi prontamente atendida, medicada e liberada para ir pra casa.

Gabriel levou Thais, os dois em silêncio. Chegando no local Thais desceu e agradeceu. Comentou que ele se arriscara muito dirigindo e podia se complicar caso a polícia lhe parasse.

Gabriel respondeu que por ela valia a pena e brincou dizendo que fazia bem em sempre estar por perto dela. Thais riu, mandou que não abusasse e agradeceu.

Fez menção de entrar quando Gabriel lhe puxou e beijou.

Dessa vez ela não reagiu indignada nem lhe bateu. Apenas se afastou, agradeceu de novo e entrou.

Gabriel se virou para ir embora quando ela voltou e lhe puxou. Gabriel se virou e Thais lhe deu um beijo apaixonado, sorriu e entrou de novo.

Gabriel ficou um tempo olhando a porta e começou a andar para ir embora. Começou a sorrir e deu um soco no ar como Pelé comemorando um gol.

Era o gol de sua vida.




CAPÍTULO ANTERIOR:

RECOMEÇO

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