NO REINO ENCANTADO: CAPÍTULO VI - O CLANDESTINO


Bia disfarçou e foi escondendo o clandestino até que chegassem a casa. Ao chegar todos desceram da charrete menos a menina. Ao perceber que todos entraram vasculhou o feno e perguntou quem era ele e o que estava fazendo ali.

O menino desceu da charrete, tirou o feno da roupa e agradeceu a Bia que insistiu dizendo que se ele não contasse logo gritaria por Anderson. O menino então se apresentou. Era o príncipe do reino.

Bia espantada disse “O que fugiu!!” e o menino pediu que ela falasse baixo, pois ninguém poderia saber. Nisso Gabriel e verdinho saíram da casa e perguntaram se algo ocorria. Bia respondeu “O príncipe fujão ta aqui”. O príncipe resmungou e comentou “Mulheres..não sabem guardar segredo por trinta segundos”.

Os meninos perguntaram o que ele fazia ali e porque tinha fugido. Nisso Anderson começou de dentro da casa a gritar pelas crianças enquanto Gabriel pegava a mão do menino e dizia “Vamos sair daqui, ta perigoso”.

Os quatro foram até um galpão abandonado que tinha na rua. Gabriel comentou que ali estariam seguros, pois ninguém entrava por medo de fantasmas e Bia vibrou perguntando aonde poderia encontrar um. Verdinho interrompeu a menina dizendo que aquele não era o momento e pedindo que o príncipe contasse a história.

O menino comentou que sempre foi muito feliz no castelo. O rei, seu pai, era um homem bom, amado pelo povo e sua mãe, a rainha, muito amorosa. Os dois sempre abriam o castelo para o povo e davam de comer, beber e festas para comemorar a boa colheita, a melhoria de vida da população ou simplesmente celebrar a vida.

Bia perguntou “Se a vida é tão boa assim por quê você fugiu?”. O menino abaixou a cabeça e respondeu “Por causa do mago ruim”. Nisso ouviu-se uma trovoada do lado de fora e as crianças se assustaram. O príncipe continuou “Ele é ruim, ele é muito ruim”.

Mago ruim era o conselheiro de irmão, que vinha a ser irmão do rei. Irmão ao contrário do rei não era um sujeito feliz e amoroso. Vivia reclamando pelos cantos, mal humorado e nem gostava de crianças. O Sol quando surgia no reino dizia “Bom dia a todos, inclusive a você irmão”. O homem resmungava e respondia que gostava mais de chuva.

Irmão era soturno, tinha inveja do rei e encontrou em mago ruim, sujeito estranho, careca, de cavanhaque e cara de mau alguém que alimentasse sua ambição. Os dois viviam pelo castelo cochichando e fazendo planos maquiavélicos. A rainha percebia e tentava alertar o rei que respondia “Ele é meu irmão, não posso virar as costas para ele”.

Um dia mago ruim deu uma sugestão a irmão que foi até o rei e disse “Está na hora do príncipe casar e começar a se preparar pra comandar o reino”. Não se sabia o motivo para que a sugestão fosse dada, mas o rei acatou e achou que realmente estava chegando a hora do menino virar rei. O príncipe não aceitava, dizia que era muito novo para isso, mas o rei estava firme eu seu propósito.

Procurou pelo reino uma noiva, várias candidatas surgiram, em outros reinos também até que achou uma que considerava ideal. Uma princesa de um reino distante.

O rei acertou com o pai da princesa todos os trâmites para o noivado mesmo com o príncipe não conhecendo sua futura noiva e acertou a ida da corte real vizinha até o reino. Eles foram e quando o príncipe deu de cara com a princesa, que tentou lhe dar um beijo, fingiu desmaiar, foi levado ao quarto e de lá fugiu.    

Bia, curiosa como só ela, perguntou porque o menino fugira e se ela era muito feia. O príncipe fez cara de assustado e respondeu “A menina devia ter uns cento e cinquenta quilos, parecia uma bola de futebol” fazendo o gesto de algo grande. Verdinho caiu na gargalhada e percebendo que todos estavam sérios pediu desculpas.

Gabriel ainda argumentou que o príncipe não poderia se esconder para sempre, estavam todos no reino lhe procurando e o menino pediu apenas alguns dias, para pensar no que fazer. Bia levantou e disse “Fique aqui escondido que vamos dar um jeito”.

Os três voltaram pra casa enquanto o príncipe ficou escondido no galpão. Rebeca perguntou onde estavam. Gabriel respondeu que foram brincar perto do lago e a mãe brigou “Podem ir, mas me avisem que fico preocupada. Não viram o príncipe que sumiu?”.

As crianças naquele dia ficaram mais sérias que o normal, eram cúmplices naquela história e quando jantaram perguntaram a Anderson e Rebeca se podiam preparar um prato com lanche e levar ao quarto. Os dois não entenderam o motivo e Gabriel respondeu “caso a gente sinta fome de noite”. Verdinho completou que tinha medo de fantasmas e não queria levantar de madrugada pra comer. Anderson e Rebeca estranharam, mas liberaram.

Os três pediram pra deitarem mais cedo alegando sono. De novo os adultos estranharam, mas liberaram. Anderson foi ao quarto contar historinha, mas em menos de cinco minutos os três roncavam. Ele saiu do quarto, Bia abriu os olhos e disse “Vamos”.

Pularam a janela e levaram lanche ao príncipe que já estava morrendo de fome e devorou tudo.

Enquanto isso o castelo estava em polvorosa. A rainha não parava de chorar e o rei preocupado mandava que funcionários do castelo procurassem pelo príncipe. Todos muito abalados, menos duas pessoas. Irmão e mago ruim.

Irmão na verdade estava furioso que seu plano dera errado e reclamava com mago ruim “Deu tudo errado mago!! Tudo errado!! Era pro meu sobrinho ter beijado a gorda e virado um sapo como foi combinado no encantamento!! Mas também!! Você tinha que ter arrumado uma gorda tão gorda?”.

Mago só ouvia a tudo, pensativo, até que irmão perguntou “Você só caminha e coça o queixo. Tem nada a dizer?”. Mago respondeu “Duas coisas. A primeira que você reclama demais, a segunda que a coisa saiu melhor que a encomenda”.

Irmão perguntou o que mago ruim queria dizer com aquilo e o malvado respondeu “Na hora certa você vai saber, tenho que falar com minha irmã antes, a bruxa da floresta. Só te adianto uma coisa. Você vai virar rei antes que a gente imaginava”.

Irmão abriu um sorriso e estufou o peito enquanto caminhava com mago ruim.

Enquanto isso os dias passavam e o príncipe continuava escondido no galpão. As crianças iam todos o dias visitá-lo, contar como estava o reino e levar comida. Rebeca e Anderson estranhavam o apetite repentino das crianças, mas até aquele momento o segredo estava seguro.

Um dia Bia notou o príncipe triste e perguntou o que ele tinha. O menino respondeu “Tenho saudade de minha família, de papai e mamãe e fico o dia todo preso nesse galpão sem fazer nada. Queria muito brincar e pensei que fugindo do castelo conseguiria já que lá eu também não brincava”.

Bia ficou sensibilizada com aquilo, também sentia saudade dos seus e de noite contou aos amiguinhos. Disse que tinham que dar um jeito, levar o menino para brincar. Gabriel respondeu que era impossível, todos procuravam por ele e Bia respondeu “Impossível não existe quando usamos isso aqui” apontando para a cabeça.

Na ensolarada tarde seguinte apareceram andando em bicicletas e dessa forma entraram no galpão. O príncipe abriu um sorriso enquanto verdinho lhe entregou um óculos escuros e um boné. O menino agradeceu e perguntou para o que era aquilo. Gabriel respondeu que tinha uma bicicleta do lado de fora esperando por ele quando o príncipe respondeu que tinha um problema.

Ele não sabia andar de bicicleta.

Os quatro foram para o lado de fora e Bia, Gabriel e verdinho tentavam ensinar o menino a andar. Príncipe tomou muitos tombos até que conseguiu se equilibrar e andar.

Os quatro andavam a toda velocidade pelo gramado que cercava o lago e príncipe sentia uma sensação de liberdade na qual nunca passara na vida. Abria os braços e fechava os olhos deixando que o vento acariciasse seu rosto.

Depois de um tempo andando pararam e ficaram olhando um local. A floresta.

Verdinho e Gabriel ficaram olhando com medo e Bia perguntou qual era o problema. Verdinho respondeu que o local guardava muitos mistérios e já ouvira histórias muito ruins de lá. Gabriel completou “Inclusive lá mora a bruxa da floresta”. Os dois fizeram sinal da cruz enquanto o príncipe ria e mandava os meninos pararem de besteiras que a bruxa não existia.

Bia sugeriu que os quatro entrassem na floresta para ver o que realmente tinha lá quando Gabriel e verdinho numa voz só gritaram “nunca” , subiram nas bicicletas e saíram correndo. Bia e o príncipe riram, subiram nas suas e foram atrás.

Enquanto isso no castelo rainha e rei eram uma desolação só com o sumiço do príncipe e mago ruim chegou com duas taças saindo fumaça de cada uma. O rei perguntou para o que servia aquilo e o mago respondeu “Consultei minha irmã que mora no interior do reino e ela me passou esse encantamento que serve para revelar a verdade”.

Rei perguntou o que o mago queria dizer com aquilo e o mago respondeu “Alteza, acredito que essa bebida traga a resposta de onde está o príncipe”.

A rainha logo se levantou, disse “me dê isso logo” e bebeu. O rei fez o mesmo e como em um passe de mágica os dois viraram pássaros. Exultante o mago gritou “Eureca!! Deu certo!!” e mandou que dois homens entrassem com uma gaiola. Já estava tudo combinado e esses homens prenderam os pássaros na gaiola.

Naquela mesma tarde Anderson foi com as crianças ao centro do reino e se deparou com o homenzinho de terno verde andando muito abalado. Bia riu e disse “Oi homenzinho estranho, faça a pergunta”. O homem disse “Hoje não tem perguntas, o rei foi aprisionado e seu irmão é o novo rei”.

Anderson perguntou se aquilo era verdade e um guarda que estava ao lado do homenzinho respondeu que sim, nisso o homenzinho perguntou “O que é o que é que vai ser da gente?”. Bia percebeu a gravidade da situação, pegou Anderson pelo braço e disse “Precisamos voltar”.

A crianças levaram Anderson até o galpão e começaram a gritar pelo príncipe. O menino, assustado, apareceu e perguntou “Vocês trouxeram um adulto?”. Bia olhou muito séria para ele e comentou.

Você precisa voltar.


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A FAMÍLIA 

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